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Inédito de Panahi em Cannes: '3 Faces' é pura perplexidade e precisão

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Por Rodrigo Fonseca
Atualização:
Behnaz Jafari e Jafar Panahi: investigação em campo nas montanhas do Irã Foto: Estadão

Rodrigo Fonseca Árduo de assistir, por sua aspereza narrativa e por retratar um universo de brutalidade, 3 Faces, o novo trabalho do diretor Jafar Panahi, pedra viva no sapato da Justiça do Irã, é uma aula de precisão. Na produção, ele aplica o dispositivo padrão dos filmes que vem fazendo desde sua prisão domiciliar (por afrontar o regime), mas abre espaço para participar de modo mais direto, físico, na investigação que dá eixo ao longa-metragem. Sem o mesmo humor de seu brilhante Táxi Teerã (Urso de Ouro em Berlim em 2015, visto por 600 mil pessoas em solo francê), mas igualmente pautado por deslocamentos e encontros, este projeto se debruça sobre o machismo e o interdito à liberdade. Soa até trágico o fato de ele não estar liberado para vir à Croisette. Tudo começou quando uma amiga atriz procurou o diretor com a notícia de que uma menina de uma aldeia, cujo sonho era ser estrela, mandou uma mensagem para ela, via redes sociais, dizendo que foi proibida pelo pai e pelo prefeito de sua vila de seguir seus desejos. Esse é o mote que leva Panahi à estrada, atrás da tal garota, levando uma atriz de verdade, Jafari Behnaz, interpretando sua amiga. No trajeto à caça da menina, eles esbarram com figuras reais do caso, numa mescla de fato e ficção. Os enquadramentos são milimetricamente calculados. E o uso de uma melodia, sazonal, pontua a dor do filme. E é delicioso ver Panahi em pessoa em um devir ator. Forte candidato ao prêmio de direção. Hoje, as apostas da França em Cannes estão por conta da comédia Le Grain Bain, dirigida por um astro local, o galã Gilles Lelouche, com Mathieu Almaric no elenco. Também neste domingo, Dia das Mães, Cannes confere o papo entre Wim Wenders e o santo homem no comando do Vaticano em Papa Francisco - Um Homem de Palavra.

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