Rodrigo FonsecaDe importância estratégica para o desenho geopolítico da América Latina, o Festival de Havana fez jus à sua vocação de valorizar o risco estético ao agraciar Lucrecia Martel com o prêmio de Melhor Direção com Zama, laureado ainda por Som e Direção de Arte, além de ter sido contemplado com o mimo da crítica, votada pela Federação Internacional de Imprensa Cinematográfica (Fipresci). Tem sangue brasileiro (o de Vânia Catani) nessa produção que recria uma Argentina colonial. Mas o cinema nacional brilhou na premiação da capital cubana em múltiplas frentes, neste fim de semana. Egresso de Minas Gerais, Baronesa, de Juliana Antunes, foi eleito Melhor Documentário com seu relato para mulheres de classes sociais mais pobres de Belo Horizonte. Desde a Mostra de Tiradentes, esta crônica sobre resistências e modos de espera vem papando láureas por todo lado.
Havana se embeveceu com (o subestimado) Joaquim, sobre Tiradentes, e deu a ele o prêmio de Melhor Música Original, composta pelo coletivo O Grivo. Em competição numa mostra de cineastas estreantes, Pela Janela, drama de Carolina Leone, recebeu uma láurea de Contribuição Artística. Mas um dos prêmios de maior representatividade ética foi entregue a Carolina Jabor e seu pungente Aos Teus Olhos. Ganhador do Prêmio Petrobras na Mostra de São Paulo e do Troféu Redentor de Melhor Ator (Daniel de Oliveira), Ator Coadjuvante (Marco Ricca), Roteiro (Lucas Paraíso) e Filme pelo Júri Popular, o drama pilotado por Carolina saiu de Havana com o Prêmio SIGNIS, uma láurea humanista. Ela é concedida, em paralelo às deliberações do júri oficial, pela Associação Católica Mundial para a Comunicação (OCIC), e faz parte do laurel do evento cubano desde 1984. A associação concedeu ainda menção honrosa a Praça Paris, de Lucia Murat.