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'Guerra Fria' aquece corações em Cannes

Por Rodrigo Fonseca
Atualização:
Joanna Kulig vive a cantora Zula em "Cold War": duas décadas de um desvairado amor Foto: Estadão

Rodrigo Fonseca Filmes sobre as imposturas do querer sempre tiveram boa sorte em Cannes, vide Quando Voam as Cegonhas (1957), Um Homem, Uma Mulher (1966), O Azul é a Cor Mais Quente (2013) e, agora, Cold War, um espetáculo de sinestesia à moda polonesa, porém de representação universal, que confirma (e refina) a maestria do diretor Pawel Pawlikowski (do oscarizado Ida) sobre o preto e branco e sobre a inaptidão de nosotros todos sobre as exigências do coração. O Palais des Festivals veio abaixo quando o filme acabou, com seu misto (aparentemente incombinável) de solenidade formal e loucura romântica dionisíaca. Erguido a partir de composições de quadro que potencializam cada elemento (visível ou não) em cena, dando a cada elemento no plano uma hierarquia, o longa-metragem é uma celebração (como raro se vê) da paixão como força incondicional. Ao longo de quase duas décadas, num contexto de Guerra Fria, entre o fim dos anos 1940 e meados da década de 1960, indo e voltando da Polônia, um maestro e compositor, Wiktor (Tomasz Kot, em sublime atuação), e uma cantora, Zula (Joanna Kulig), vão enfrentar de tudo para ficarem juntos, incluindo a própria temeridade diante da entrega. Mas é o Estado quem mais (e pior) vai triangular com eles. Temos aqui um filme monumental, à altura do legado que os dois maiores cronistas cinematográficos do verbo amar - o inglês David Lean de um lado, com Desencanto e Dr. Jivago; e o francês François Truffaut do outro, com A Mulher do Lado - nos deixaram. Que venham os prêmios, pois, até agora, nada de Cannes chegou à sua altura. O segundo lugar é o russo Leto (L'été), musical vivo, inquieto e também em P&B. Sexta é dia de Bergman na Croisette, comemorando os cem anos de nascimento do mestre sueco morto em 2007: vai ter projeção de O Sétimo Selo remasterizado e doc da alemã Margueritte von Trotta (êta diretora bacana!) sobre ele.

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