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De antena ligada nas HQs, cinema-pipoca, RPG e afins

Grande Prêmio e grande animação para Otto Guerra: 40 anos de cinema

Por Rodrigo Fonseca
Atualização:
Otto Guerra, que completa 40 anos de carreira em 2017, brilhou no Grande Prêmio de Cinema com seu discurso sobre animação e com o grito político "Vaza, Canalha!", sinônimo de "Fora Temer!"  Foto: Estadão

RODRIGO FONSECA Encarado como um tipo de Oscar nacional, o Grande Prêmio do Cinema Brasileiro -cuja edição 2016 ocorreu na terça, no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, com a vitória de Que Horas Ela Volta?  na categoria Melhor Filme - ficará na memória por conta de um discurso, promovido por um dos mais aclamados representantes da animação neste país: o gaúcho Otto Guerra. Ao receber o Troféu Grande Otelo de melhor longa-metragem animado por Até Que a Sbórnia Nos Separe, o diretor de 60 anos, prestigiado nas décadas de 1980 e 90 pelos curtas O Natal do Burrinho e Novela, cravou um sinônimo para o grito de guerra mais recorrentes das Artes no Brasil desde o Impeachment ("Fora Temer!"). Seu "Vaza, canalha!" foi saudado com aplausos. Fora isso, ele fez todo mundo rir ao dizer: "Animação adulta brasileira é que nem poesia: todo mundo gosta, mas...", alfinetou Otto, em alusão ao baixo público do setor, em sua ala mais indie. Sua picardia no palco do Municipal vem alimentada pela energia de sua atual e produtiva fase à frente do estúdio Otto Desenhos, onde produz atualmente um novo e aguardado projeto: A Cidade dos Piratas, inspirado na obra da cartunista Laerte, com traços existencialistas. A base sãos as tiras de HQ Piratas do Tietê.

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"Comecei esse projeto dos Piratas, que já está com mais da metade dos desenhos pronta, em 1993, numa época em que esperava filmar a obra dos grandes quadrinistas brasileiros da minha geração, como Adão Iturrusgarai, Glauco, Angeli... Faltava a Laerte, que mudou muito seu trabalho ao se assumir mulher com quase 60 anos", diz Otto, que comemora 40 anos de carreira em 2017. "Como o trabalho da Laerte enveredou por um lado mais existencial, eu trouxe um pouco dos conflitos do autor para o roteiro do filme, criando algo como um falso documentário ou um falso filme marginal".

Otto foi premiado por "Até Que a Sorte Nos Separe": melhor longa de animação  Foto: Estadão

Em paralelo à realização de A Cidade dos Piratas, o animador prepara a série de TV Os Filosofinhos, com Sócrates aos 7 anos. "Tem até um Espinosinha que acredita em Deus", diz o diretor, celebrando a atual cena da produção animada no Brasil. "Quando eu tinha uns 20 anos, o máximo que havia de longas de animação no país eram cinco filmes... e isso em toda a nossa História. Agora, temos quase 20 projetos em produção. É um cenário riquíssimo".

Marco Ricca estrela "Chatô"  Foto: Estadão

Sobre a festa de ontem... historicamente, o Grande Prêmio do Cinema Brasileiro ficou célebre por episódios como: a) o esporro de Cláudio Assis em Hector Babenco, em 2003; b) a lendária homenagem a Paulo José, em 2004 em tom de Macunaíma; c) a celebração da carreira de Cacá Diegues em 2012; d) o tributo a Ruth de Souza, em 2013. Ontem, sob a direção de Rafael Dragaud, que investiu na força da comunicação digital, a diversidade reinou soberana na cerimônia, sobretudo com a presença da cultura trans no palco, tendo Cris Vianna e um inspirado Fabrício Boliveira como apresentadores. A presença de Renato Aragão, num tributo a Daniel Filho, foi um mimo à parte, capaz de falar diretamente ao nosso imaginário de formação cinéfilo, candidatando o eterno Trapalhão a ser homenageado no ano que vem. Mas o ponto alto, fora o speech de Otto e os desabafos de protesto, foi o número musical em remissão ao legado de Cássia Eller. Emocionou sem exagerar. E, polêmicas à parte, foram justíssimos os troféus dados a Chato - O Rei do Brasil, sobretudo o de melhor ator para Marco Ricca.  

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