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De antena ligada nas HQs, cinema-pipoca, RPG e afins

Gramado faz justiça à inteligência, à larica e ao mestre Domingos Oliveira

Por Rodrigo Fonseca
Atualização:
Domingos na premiação de Gramado (foto de divulgação de Edson Vara)  Foto: Estadão

RODRIGO FONSECAVenceu a doçura. Venceu a gargalhada. Assim foi Gramado... De um festival que abre sua programação com uma aula de moral & cívica do Bem (o obrigatório Aquarius) e que outorga a José Mojica Marins, o Zé do Caixão, um troféu especial dado só aos maiores diretores do país, não se poderia esperar outra coisa se não dignidade e ousadia nos resultados de competição: caso da competição gramadense em 2016. Mas o júri deste ano merece um caloroso "Muito obrigado!" pelo misto de lucidez e de raça ao escolher os laureados com os Kikitos, driblando preconceitos e fazendo surpresas. Havia uma badalação grande em torno do vigoroso Elis, de Hugo Prata, tido como "o" favorito: afinal, o desempenho de Andréia Horta como a cantora Elis Regina é algo na margem do transcendental. Mas quem ganhou na categoria melhor filme - e na de diretor - foi outro: Barata Ribeiro, 716, um balanço geracional dos anos 1960 elaborado a partir das vivências e encantos de Domingos Oliveira. Único cineasta com status de mestre na competição deste ano, o veterano realizador de Todas as Mulheres do Mundo (1966) já venceu na Serra Gaúcha antes, em quesitos variados, vide Seprações (2002), Juventude (2008) e Infãncia (2014). Mas, na noite de sábado, o palmarês de Gramado deu a ele mais e melhores alegrias, coroando uma trajetória de mais de cinco décadas de cinema. E, com a láurea, fez justiça à tradição da comédia afetiva.

"Barata Ribeiro, 716": melhor filme de Gramado para o corajoso júri de 2016  Foto: Estadão

No longa, Caio Blate é uma espécie de alter ego de Domingos: um intelectual às voltas com a boêmia e com a arte. A ação se passa em um apartamento em Copacabana.

Chef trapalhão no programa "Larica Total", Paulo Tiefenthaler se reinventa numa atuação hilária em "O Roubo da Taça": Kikito de melhor ator   Foto: Estadão

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Mas não foi só aí que o júri fez bonito... O riso foi premiado também na forma de O Roubo da Taça, uma chanchada transgressora, sobre o sumiço e o derretimento da Jules Rimet, no qual Paulo Tiefenhaler (de Larica Total) deixa em erupção o vulcão irônico adormecido dentro si durante anos e anos em que seu talento GG não foi reconhecido como deveria. Injustiçado pela ala mais conservadora da crítica, que conjuga o verbo "rir" como um demérito social, o longa de Caíto Ortiz papou os troféus de melhor ator (para Tiefenthaler), roteiro, fotografia e direção de arte. Foi o filme mais louco, menos ortodoxo e mais provocativo de toda disputa oficial de longas, num jorro de prazer regado a bons diálogos e Toddy (bebido por Paulão, de guti-guti, nas asas do taça surrupiada, numa sequência antológica).

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Quanto a Elis, que comoveu Gramado em peso, os jurados não foram levianos (e nem poderiam, frente a qualidades diversas): o longa de Hugo Prata ganhou o prêmio de melhor montagem e o Kikito de melhor atriz (merecidíssimo) para Andréia, num laurel fechado com o troféu de melhor filme pelo júri popular. É um bom indício para uma produção com vocação para lotar salas de exibição.

Leonardo Sbaraglia é um roteirista abalado pela própria impotência em "O Silêncio do Céu": Prêmio Especial do Júri e da Crítica para o longa de Marco Dutra  Foto: Estadão

Rascante e obrigatório, com estreia marcada para 22 de setembro, O Silêncio do Céu, de Marco Dutra, tragédia conjugal em tom de thriller, ganhou o Prêmio Especial do Júri, um troféu de desenho de som (impecável!) e o galardão dos críticos. Já El Mate, no qual Bruno Kott atua e dirige, fez do cineasta o melhor ator coadjuvante. A melhor coadjuvante foi Glauce Guima, da caravana de Domingos, que teve Barata Ribeiro, 716 agraciado ainda com o mimo na faixa de trilha sonora.

Estavam na avaliação dos longas nacionais a produtora Vânia Catani, a diretora Ana Luiza Azevedo, o ator Nelson Xavier, a jornalista Elaine Guerini e o roteirista e produtor Horácio G. Grinberg. A eles, Gramado deveria dar um Kikito pela eficiência.

 

 

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