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De antena ligada nas HQs, cinema-pipoca, RPG e afins

Gilles Lellouche entra no time dos 'Intocáveis'

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Por Rodrigo Fonseca
Atualização:
Da esquerda para a direita, o ator Gilles Lelouche, o diretor Éric Toledano e o também cineasta Olivier Nakache apresentam o hilário "C'Est La Vie" em concurso em San Sebastián  Foto: Estadão

Rodrigo FonsecaEmbora tenha um sobrenome sonoramente similar ao do diretor de Um Homem, Uma Mulher (1966), diferenciado-se deste (Claude Lelouch) por um "l" a mais e "e" ao fim do dígrafo, Gilles Lellouche pouco ou quase nada tem a ver com o ultrarromantismo do mítico cineasta, funcionando mais (e melhor) como um irônico Casanova em filmes de gênero na França, como a comédia C'Est La Vie!, recebida a gargalhadas neste domingo em San Sebastián. Prevista para ser lançada em seu país de origem no dia 4 de outubro, com o título Le Sens De La Fête, o longa-metragem entrou em concurso no respeitado festival espanhol (hoje em sua 65ª edição) pela grifa de sucesso de seus realizadores: Éric Toledano e Olivier Nakache. Os nomes não te dizem nada. Bom... eles fizeram Intocáveis, aquela dramédia de 2011, vista por 20 milhões de pagantes na França. Melhorou? Samba (3 milhões de espectadores) é deles também. Só que aqui sai Omar Sy, "o" ídolo negro da Europa, e entra Lellouche, galã top no Velho Mundo, posto aqui como elemento cômico. E funciona.

 

"Faz toda a diferença para um ator poder trabalhar um roteiro de diálogos saborosos, cujos diretores estão abertos a trocar livremente com seus intérpretes, como é o caso de Éric e Olivier", elogiou Lellouche em entrevista ao P de Pop, logo após uma sessão recheada de risadas com Le Sens De La Fête (aka C'Est La Vie!).

O galã canta em cena da comédia, batizada na França de "Le Sens De La Fête"  Foto: Estadão

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Do que se trata? Uma festa de casamento. Nada mais. Agora, depois de 105 minutos, San Sebastián em peso saiu do cinema com a certeza de que fazer uma cerimônia de matrimônio dá trabalho. Lellouche faz um cantor abilolado, cujas opções musicais (avessas a do noivo) dão dor de cabeça ao organizador do casório, o empresário Max, vivido por um mito da autoralidade na França: o ator e dramaturgo Jean-Pierre Bacri. De origem argelina, ele trabalhou em cults como A Vida dos Outros (1999) e Como Uma Imagem (2004).   

"Bacri é um gigante por sua generosidade e pela capacidade que tem de fazer todo o elenco convergir para ele e se manter unido. E, neste caso, o elenco era grande", diz Lellouche, que participou como ator e diretor do sucesso Os Infiéis (2012) e atuou em A Conexão Francesa (2014). "O maior diferencial de C'Est La Vie! é de poder mostrar a diversidade cultural do meu país, atuando ao lado de atores das mais variadas culturas, como é comum nos filmes de Éric e Olivier".

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"No Intenso Agora" foi saudado como obra-prima no festival espanhol  Foto: Estadão

Durante todo o fim de semana, o Brasil desfrutou de prestígio por aqui à força da boa acolhida ao documentário de João Moreira Salles, o magistral No Intenso Agora, que goza de toda a criteriosa inteligência de edição de Eduardo Escorel para somatizar utopias e desesperanças de 1968 numa viagem ao passado, com arquivos da Europa, do Brasil e da China.

"Documentos preservam múltiplas camadas de sentido que, por vezes, só se revelam à luz do tempo, mas eles também podem ser criticados pela abordagem que trazem. Busquei arquivos que me permitissem refletir como se filme em regimes democráticos, autoritários e totalitários", disse João ao P de Pop.

"Arábia", horizonte mineiro  Foto: Estadão

Nesta quarta, outra prestigiada produção nacional, lançada em Roterdã, o mineiro Arábia - que esta noite pode ganhar tudo no Festival de Brasília - vai tentar a sorte por aqui em San Sebastián, na seção Horizontes Latinos. É a mesma vitrine que consagrou Lobo Atrás da Porta (2013) e Era o Hotel Cambridge (2016). Na trama dirigida por João Dumans e Affonso Uchoa, o jovem André (Murilo Caliari) encontra o caderno de memórias de Cristiano (Aristides de Sousa), metalúrgico hospitalizado. Por meio dele, o menino conhece sua trajetória atravessada por afetos, pela necessidade de sobreviver e pelo amor, emoldurada por relações de trabalho nas diversas paisagens mineiras.

Luca Guadagnino dirige Armie Hammer em "Me Chame Pelo Seu Nome"  Foto: Estadão

Até o momento, a julgar por um painel eletrônico na entrada de uma das salas exibidoras da cidade (o Teatro Victoria Eugénia), que mede a votação popular do festival, o filme preferido do público de San Sebastián, de sexta até agora, é o drama romântico LGBT Me Chame Pelo Seu Nome. Revelado em Sundance, aclamado em Berlim e já assegurado para o Festival do Rio (5 a 15 de outubro), Call Me By Your Name (no original) tem o brasileiro Rodrigo Teixeira (de A Bruxa e Frances Ha) entre seus produtores. O filme mais esperado deste domingo por aqui por terras espanholas também carrega temperos de Brasil: é o drama Uma Espécie de Família, feito em coprodução com a Argentina e dirigido por Diego Lerman, que trouxe a atriz Paula Cohen para o elenco.

Nesta segunda, San Sebastián tem tudo para se rasgar em prantos ao largo das projeções de 120 Batimentos Por Minuto, no qual o diretor Robin Campillo recria as campanhas em defesa dos portadores de HIV na França, nos anos 1990. Doído, mas primoroso, com aura de filme-piquete, o longa virou sensação em Cannes em maio. Saiu de lá com o Grande Prêmio do Júri, a láurea da nonagenária Federação Internacional de Imprensa Cinematográfica (Fipresci) e uma legião de fãs. Segunda rola ainda o chileno Los Perros, destaque da Semana da Crítica cannoise, com Alfredo Castro de ex-torturador, atual professor de hipismo.

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