RODRIGO FONSECA
Canteiro da língua portuguesa nos rincões da China, Macau vai abrigar o que promete ser "o Festival de Cannes da Ásia", ao acolher, de 8 a 13 de dezembro, uma seleção competitiva de longas-metragens capaz de juntar exercícios de radicalidade autoral a potenciais blockbusters de toada pop. Até o Brasil terá vez no primeiro International Film Festival & Awards Macao (IFFAM), ou apenas Festival de Macau, que escalou o thriller mineiro Elon Não Acredita na Morte, de Ricardo Alves Jr., pelo qual Rômulo Braga ganhou o troféu Candango de melhor ator em Brasília, em setembro. Suspense de narrativa nada convencional, no qual o Elon do título busca o paradeiro de sua mulher desaparecida, o filme de Alves Jr. está em disputa no evento chinês, contra dez outras produções de diferentes línguas. A largada para a competição será dada após a projeção hors-concours do drama Polina, danser sa vie, de Valérie Müller e Angelin Preljocaj, com Juliette Binoche no mundo do balé.
Na seleção de concorrentes entraram filmes aclamados mundialmente como São Jorge, drama social lusitano chamado de "o Rocky Balboa português", pelo qual o lisboeta Nuno Lopes ganhou o prêmio de melhor ator no Festival de Veneza, na seção Horizontes, ou o thriller hospitalar francês 150 Miligramas, de Emmanuelle Bercot. Direto de Toronto chegou o policialesco Free Fire, filme inglês de Ben Wheatley, com Brie Larson e Sharlto Cooper. Também do Reino Unido foi importado o thriller de ação Trespass Against Us, de Adam Smith, com Michael Fassbender e Brendan Gleeson afogados no histórico de crimes de sua família.
Do cardápio audiovisual da China, entraram para briga dois filmes. Um deles é Hide and Seek, uma trama de mistério de Liu Jie sobre um homem com TOC em busca de segredos de seu passado na parte mais perigosa de sua cidade. O outro é uma prata da casa: Sisterhood é uma produção de Macau dirigido pela cineasta Tracy Choi. Na trama, uma jovem que deixou a região para estabelecer uma família em Taiwan tem que voltar para sua terra natal a fim de participar do funeral de sua melhor amiga.
Na ala hors-concours, tem Brasil de novo num pacote de pepitas garimpadas de outros festivais, sobretudo os do Ocidente, como Sundance e Berlim, de onde saiu o possante Indignação, produzido pela RT Features de Rodrigo Teixeira, com direção de James Schamus. Do ladinho dele, chega o título mais cotado ao Oscar de filme estrangeiro de 2017: a comédia alemã Toni Erdmann, de Maren Ade, agraciada com o prêmio da crítica em Cannes. Para incrementar sua oferta de pérolas, o IFFAM ainda separou uma penca de clássicos recauchutados, entre eles Rififi (1955), de Jules Dassin, Olhos Sem Rosto (1960), de Georges Franju, e o faroeste cult Três Homens em Conflito (também chamado O Bom, o Mau e o Feio), de Sergio Leone, que completa 50 anos em 2016.
O pacotão da porção lusitana da China promete uma hemodiálise narrativa para o cinema. Vejamos...