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'Estado Itinerante': um curta arrebatador reafirma a força mineira no Festival de Brasília

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Por Rodrigo Fonseca
Atualização:
Lira Ribas em "Estado Itinerante": catarse  Foto: Estadão

RODRIGO FONSECA

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Estão danados os mineiros do cinema. Embora o título favorito ao Candango de melhor filme de Brasília, até este momento, seja uma investigação com CEP do DF sobre genocídios indígenas (Martírio, de Vincent Carelli), é Minas Gerais quem mais anda brilhando neste festival. Depois de brilhar na noite de sexta com o longa A Cidade Onde Envelheço e com o pequeno (25 minutos) grande Constelações, a esquadra mineira ainda emplacou um curta-catarse, que lavou almas e enxaguou olhos em sua reflexão sobre a condição feminina: Estado Itinerante, de Ana Carolina Soares. Foi uma ovação o fim de sua projeção, deflagrando apostas para um potencial (e merecido) prêmio de melhor atriz para Lira Ribas.

Numa narrativa de trânsito, concentrada no esforço de autoafirmação de uma mulher oprimida por uma relação violenta, Lira é Vivi, uma trocadora de ônibus em formação que busca se ausentar de um mundo agressivo. As intolerâncias de seu motorista - este só expresso em voz e em turras - reiteram os laços com a brutalidade que Vivi trouxe consigo. Mas o contato com outras mulheres e um banho de descarrego num bar, ao som de Guns'n'Roses (sequência de um vigor dramático elevado à enésima potência) dão a ela (e a nós, plateia) um novo estímulo.

Ontem, MG ainda fez bonito entre os longas com Elon Não Acredita na Morte, um thriller (ou quase isso, vide sua musculatura existencialista) sobre um looser (Rômulo Braga) em busca do paradeiro de sua mulher. Clara Choveaux iluminou a telona do Cine Brasília no papel de uma femme fatale que embaralha ainda mais a percepção de Elon em sua investigação. Mas o melhor foi ver Lourenço Mutarelli em cena, numa participação como o primeiro marido (ou coisa do tipo) da desaparecida. É na fotografia de Matheus Rocha que o longa tem o seu melhor, em enquadramentos de corpo a corpo com Rômulo, em andanças a esmo por labirintos de mistério.

Nesta segunda, uma avassaladora experiência ficcional sobre a resistência do teatro (e da Arte, no maiúsculo) fecha a competição de longas: Deserto, primeira (e afrodisíaca) incursão do ator Guilherme Weber na direção, com grandes atores em cena. Sua base é o livro Santa Maria do Circo, de David Toscana, e sua trama segue o périplo de uma trupe teatral de almas danadas por uma cidade fantasma. Lima Duarte interpreta o dirigente do grupo, cujos integrantes foram oferecidos a potências dramáticas como Magali Biff, Cida Moreira e Márcio Rosário.

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Fora da seleção oficial, na seção Mostra Brasília, dedicada às pratas da casa, o festival se deleitou (e nos presenteou) com Cícero Dias - O Compadre de Picasso, de Vladimir Carvalho. Nele, o maior mestre do documentário brasileiro em atividade hoje no país promove uma investigação sobre o Modernismo a partir das andanças do pintor pernambucano que saiu do Brasil em pleno Estado Novo para trocar ideias sobre estética e sobre identidade com alguns dos maiores artistas plásticos da Europa.

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