É pouco citado - e, menos ainda, discutido - o fato de o diretor de Rocky, Um Lutador (1976), o subestimado John Guilbert Avildsen, ser também o realizador do filme que tornou as artes marciais uma presença doméstica nas casas do Ocidente: Karate Kid - A Hora da Verdade (1984). São dois filmes de superação, sendo o primeiro um tipo de Cinderella sociológico (trocando o sapatinho de cristal por shorts com a bandeira dos EUA e luvas de boxe) e, o segundo, um Pigmaleão no qual o menino-fracasso toma um banho de tatame até renascer como um vencedor. Imerso agora na pré-produção de um novo longa-metragem após anos de hiato - Stano, com Joe Manganiello - Avildsen nos deu a medida de que o "cinema de luta" é, antes de tudo, um melodrama, só que desenhado por uma trilha onde o terreno do físico é palco para o espetáculo da purgação - pois é por meio dela que se chega à ascese, à redenção.
Antes dele, obras-primas como O Invencível (1949), de Mark Robson, com Kirk Douglas, ou Réquiem Para Um Lutador (1962), de Ralph Nelson, com Anthony Quinn, já haviam testado este caminho, com êxito, mas sem o alcance pop que Avildsen teve entre o fim dos anos 1970 e o fim dos 80. Com Avildsen, o desamparo social a carência afetiva deixaram de andar em bifurcação e se tangenciaram, construindo um chão para que cenas de socos e pontapés ganhassem carne viva: e essa que fica roxa não pelos golpes dos ringues, mas pelas cacetadas da vida. Que Derek Wayne Johnson esquadrinhe a obra de Avildsen em todas as suas latitudes sociológicas e emocionais. E que o filme chegue logo aqui. p.s.: Esta pauta foi presente do xará, crítico e cineasta Rod Carvalho, que está preparando o documentário Brazilian Way também com entrevistas quentes com diversos profissionais do meio cinematogra?fico: diretores, atores, roteiristas e te?cnicos que contribuem para fazer cinema no Brasil.
O longa dele está em fase de montagem e merece uma olhada atenta por se candidatar ao posto de filme referência para quem estuda toda sorte de manifestação audiovisual.