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Brasília acalanta thriller sob duas rodas de Felipe Bragança

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Por Rodrigo Fonseca
Atualização:

Rodrigo FonsecaNo ronco dos motores da motoca de Cauã Reymond, começou a 50ª edição do mais politizado festival de cinema do país, tendo distintas representações de territorialidade como foco: Brasília embalou Não Devore Meu Coração! com carinho e calor na noite de sexta. Elogios como "é de dilacerar" e"desconcertante" coroaram sua passagem pelo miocárdio político da nação. Foi a primeira projeção nacional oficial deste thriller afetivo, que iniciou sua carreira de fora pra dentro, aos olhos de uma plateia americana, durante o Festival de Sundance, nos EUA. Ele esteve lá em janeiro, quando a nada convencional e pouco realista fotografia de Glauco Firpo foi um ímã de elogios. Don't Swallow My Heart, Alligator Girl! é o título pelo qual o filme ficou conhecido no exterior, tendo sido exibido ainda no Festival de Berlim, de onde saiu com um varal de boas resenhas. Em terras brasilienses, não dá pra se falar em unanimidade acerca do novo (e mais maduro) filme de Felipe Bragança (de CLAUN), mas os elogios espocam pelo Distrito Federal. DF que hoje vai receber, na abertura de sua seleção competitiva pelo troféu Candango, o gaúcho Música Para Quando As Luzes Se Apagam, de Ismael Caneppele, e o paulista Vazante, de Daniela Thomas.

Cauã Reymond desafia suas próprias convenções em "Não Devore Meu Coração": adjetivos como "dilacerante" coroaram o filme em Brasília  Foto: Estadão

Mais fabular (e mais virulento) de todos os mergulhos recentes do cinema nacional do Centro-Oeste, com um roteiro lotado de falas poéticas, o filme do diretor carioca (conhecido por projetos como A Alegria) é uma azeitada mistura de Meu Primeiro Amor com O Selvagem da Motocicleta, temperado a litros de catuaba. Numa reinvenção de seu arquétipo de galã, Cauã, atual astro rei da TV brasileira, vive o motociclista Fernando a.k.a. Dezembro, integrante explosivo de uma gangue na fronteira entre Brasil e Paraguai. Bragança contou aqui com a sua parceria de direção Marina Meliande (que tem por vir por aí uma força da natureza chamada Mormaço, dirigido por ela) num outro posto: o de produtora. Dina Salem Levy assina a delicada direção de arte que amplia o misticismo daquele mundo de vinganças, lendas e desejos represados.

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Na trama baseada em contos de Joca Reiners Terron, o jovem de 13 anos João Joca Carlos (Eduardo Macedo), irmão de Fernando, é apaixonado por uma menina índia, por quem é capaz de tudo, sobretudo depois que encontra uma espada da Guerra do Paraguai. Foi calorosa a acolhida berlinense a Não Devore Meu Coração, com interesse especial do público alemão para a sofisticada estrutura em atos (espelhados pelas memórias do conflito paraguaio) do roteiro. Também chamou atenção o surpreendente desempenho de Macedo como Joca. Leopoldo Pacheco tem uma atuação primorosa num papel pequeno, mas estratégico. Sua escolha por Brasília não poderia ser das mais felizes para um evento que se reinventa numa aposta na diversidade estética e na celebração da autoralidade.

Eis a lista integral de concorrentes aos Candangos:

Mostra competitiva de longa-metragem

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  • ARÁBIA, de Affonso Uchoa e João Dumans, MG
  • CAFÉ COM CANELA, de Ary Rosa e Glenda Nicácio, BA
  • CONSTRUINDO PONTES, de Heloisa Passos, PR
  • ERA UMA VEZ BRASÍLIA, de Adirley Queirós, DF
  • MÚSICA PARA QUANDO AS LUZES SE APAGAM, de Ismael Cannepele, RS
  • O NÓ DO DIABO, de Ramon Porto Mota, Gabriel Martins, Ian Abé, Jhesus Tribuzi , PB
  • PENDULAR, de Julia Murat, RJ
  • POR TRÁS DA LINHA DE ESCUDOS, de Marcelo Pedroso, PE
  • VAZANTE, de Daniela Thomas, SP

Mostra competitiva de curta-metragem

  • A PASSAGEM DO COMETA, Juliana Rojas, SP
  • AS MELHORES NOITES DE VERONI, Ulisses Arthur, AL
  • BAUNILHA, Leo Tabosa, PE
  • CARNEIRO DE OURO, Dácia Ibiapina, DF
  • CHICO, Irmãos Carvalho, RJ
  • INOCENTES, Douglas Soares, RJ
  • MAMATA, Marcus Curvelo , BA
  • NADA, Gabriel Martins , MG
  • O PEIXE, Jonathas de Andrade, PE
  • PERIPATÉTICO, Jessica Queiroz, SP
  • TENTEI, Laís Melo, PR
  • TORRE, Nadia Mangolini, SP

No fim de semana de abertura do festival, Nelson Pereira dos Santos, o decano do cinema moderno do país, vai ganhar um tributo lá, numa homenagem a uma obra que nos deu Vidas Secas (1963) e O Amuleto de Ogum (1974), entre outros míticos exercícios de direção. Aliás, acaba de sair uma caixa de DVDs com sua obra de juventude e é um pacote imperdível.

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