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De antena ligada nas HQs, cinema-pipoca, RPG e afins

'Bem Sertanejo' é 'o' acontecimento teatral da temporada

Por Rodrigo Fonseca
Atualização:
"Bem Sertanejo" no Municipal do Rio  Foto: Estadão

RODRIGO FONSECACom a morte de Antonio Cândido, toda a contribuição que esse autor deu, não apenas à literatura, mas à antropologia brasileira, vem à tona, com destaque para a luz jogada por ele sobre a cultura caipira, em Os Parceiros do Rio Bonito. Lançado em 1964, o livro foi seminal para a inclusão da formas de subjetividade rurais, tirando as figuras humanas da roça da caricatura. Soa quase mórbido o fato de que o teórico, que nos deu esta reflexão, morra no momento em que a tradição da representação ruralista chegou ao Teatro Municipal do Rio de Janeiro, com o espetáculo Bem Sertanejo - O Musical. Só o inusitado sociológico de se ouvir -e ver - Michel Teló e sua sanfona no solo sagrado da ópera e da música erudita já faria dessa peça um acontecimento para as artes cênicas no Brasil. Mas há, ao redor dele, algo mais do que o exotismo: Gustavo Gasparani, seu autor e diretor, chegou ali a uma evolução formal à altura dos titãs do gênero no mercado teatral brasileiro. E mais: o desempenho de Teló, como animador de cena, é surpreendente, consolidando um sólido arquétipo de trovador. A trama é um fiapo: uma série de situações desenham a evolução da música sertaneja ao longo da História, alcançando seu ápice no período que críticos como Tárik de Souza chamam de "a era do sertanejo mauricinho", ou seja, o início da década de 1990, com Leandro e Leonardo e Zezé DiCamargo e Luciano. Mas Gasparani encapa esse fiapo com uma roupagem pop de jukebox que valoriza a tradição, mas a aproxima de novas gerações. No palco, Lílian Menezes, (o hilário) Daniel Carneiro, Alan Rocha e Cristiano Gualda são os dínamos de um azeitado elenco, que vai de Tonico e Tinoco a Sérgio Reis, chegando a Entre Tapas e Beijos. E Teló cantando Ai Ai Se Eu te Pego naquele terreiro sacro é uma catarse.  

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