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De antena ligada nas HQs, cinema-pipoca, RPG e afins

'Antes o Tempo Não Acabava' faz geopolítica afetiva

Por Rodrigo Fonseca
Atualização:
Um jovem indígena entra numa ciranda de descobertas sentimentais em "Antes o Tempo Não Acabava": aula de montagem  Foto: Estadão

Rodrigo Fonseca Presença raríssima em nossas salas exibidoras, o cinema amazonense conquista neste fim de semana um espaço nobre em circuito a partir de um exemplar de sua potência dramatúrgica expresso não por cartões postais de exotismo, mas pela delicadeza. Com uma leva de prêmios no currículo, incluindo o de melhor filme no Festival de Vitória 2016, o herbáceo Antes o Tempo Não Acabava saiu lá de Manaus, trazido por Sérgio Andrade e Fábio Baldo, embrulhado em afetividade etnográfica, e se abriu para o mundo a partir da Berlinale, há dois anos. A partir de sua passagem por solo alemão, ele virou um documento ficcional obrigatório para a compreensão da realidade do jovem índio no Brasil. Em sua trama, Anderson (vivido por Anderson Tikuna) é um jovem indígena em conflito com os líderes de sua comunidade, localizada na periferia manauense. Ali, as tradições mantidas por seu povo parecem anacrônicas em relação à vida contemporânea que ele leva, entre o tecnobrega, o pop, a diva Beyoncé e as mil angústias inerentes ao adolescer. Em busca de autoafirmação - como desejo, como forma de viver com suas heranças culturais -,  Anderson abandona a comunidade para viver sozinho no centro da cidade. Cercado por novos ares, experimenta sentimentos inusitados para sua educação sentimental de base e enfrenta desafios de múltiplas ordens. No entanto, o Velho Pajé planeja trazê-lo de volta para mais um ritual. Lá pelas tantas, uma trombada (de leve... pois é uma estética de levezas) com a mulher-poema Pia (Rita Carelli, sempre um assombro, de beleza e firmeza) vai abrir mais uma porta no labirinto de experimentações pelas quais o rapaz passa, levando a gente com ele. Apesar da geografia amorosa sinuosa, sob a qual o longa se debruça, o leito desta narrativa se desenha com sutileza na tela, graças ao cinzel com que Fábio Baldo esculpe a montagem.  

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