Rodrigo FonsecaPontuado por um clima de erotismo áspero, com direito a uma canção de Agepê e à cena de masturbação feminina mais inusitada (e telúrica) do cinema nacional, o filme pernambucano Açúcar vai integrar o bonde brasileiro no Festival de Roterdã. É o casal de diretores Renata Pinheiro e Sérgio Oliveira que assina a direção deste drama político centrado no racismo e no decadentismo da aristocracia rural no país. Quem encarna a nobreza falida do Nordeste é Maeve Jinkins, em atuação arrebatadora na pele da herdeira de um engenho de cana. A partir dela, mergulhamos em um universo onde realismo social e fantasia dançam frevo. Maeve vive Maria Betânia Wanderley, a dona de um império agrícola em vias de desaparição. Seu choque é ver que um centro cultural negro ao redor de suas posses prospera mais do que seus negócios dela, uma vez que seu empenho em plantar chuchu e frutas exóticas não deu em nada. A chegada de uma aristocrata ainda mais racista, vivida por Magali Biff (em cartaz hoje em Pela Janela), vai inflamar os ânimos locais, envolvendo mesmo os orixás. Ou quase.