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Pequenas neuroses contemporâneas

Opinião|Os leitores

Fiz uma hora na Avenida Paulista ontem, para ver [atrasado] o filme O Leitor. A Paulista sempre surpreende. É um parque a céu aberto. Seus camelôs são diferenciados. Muitos vendem filmes piratas.

Atualização:

Na Rua Augusta, na quadra do Espaço de Cinema Unibanco, vendem-se documentários, filmes de arte, DVDs que nem estão nas locadoras. Quem vende, discute cinema como um entendedor. Já comprei algumas pérolas, que nunca vi em lojas especializadas.

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Não apoio a pirataria. Mas, nesse caso, acredito haver fornecimento ilegal de um produto que a grande indústria encostou na geladeira, deixou fora de catálogo e é chupado pela internet. Há um que de desobediência civil e resistência cultural nessa compra. Me sinto um militante.

Comecei com Brasil: Muito Além do Cidadão Kane, documentário sobre o Roberto Marinho embargado por aqui [censurado?]. Eventualmente, compro filmes que dificilmente passam em tevês pagas, como Waking Life, Estado de Sítio, A Sociedade do Espetáculo (de Guy Debord) e o emblemático Corações e Mentes, documentário apontado por muitos como o vetor da luta contra a Guerra do Vietnã.

Estarei alimentando o crime organizado? Acho que o uísque paraguaio que tomo nos bares de São Paulo são mais danosos à economia e à Receita.

As bancas da avenida têm um gosto peculiar. Os livros de bolso ficam na entrada. Vendem Sartre, Kafka, Stendhal, Bakunin, Dostoievski, Machado de Assis, Fernando Pessoa.

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Há uma predileção por manuais de esquerda e anarquistas. Na avenida dos grandes bancos, escritórios e da FIESP, a literatura antiglobalização tem comprador. Toda a obra de Bukovski fica exposta. Claro, o Manual do Kamasutra ilustrado tem destaque. Mas o alto nível da literatura de banca, ao custo aproximado de dez reais o livro, é animador. Nem tudo está perdido.

Opinião por Marcelo Rubens Paiva
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