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Pequenas neuroses contemporâneas

Opinião|O limite e o medo da ficção

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Atualização:

 

Alertas no início da segunda temporada de 13 Reasons Why levantam questões sobre os limites da arte.

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Imagine no começo de Apoclypse Now o ator Martin Sheen avisar que se trata de um filme de ficção que aborda os extremos da loucura (e violência) humana.

E recomendar aos sensíveis ao tema que se retirem do cinema.

Ou Jack Nicholson informar no começo de O Iluminado que, se teu pai anda tenso, estressado, em crise profissional, e vocês forem viajar para um lugar isolado, melhor não ver o filme.

É o que acontece na nova temporada de 13 Reasons Why (Netflix).

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No primeiro episódio, os atores da série que aborda bullying numa high school americana, que resulta num suicídio e numa tentativa de, que mexe com toda comunidade, informam que um site está à disposição para quem quiser conversar sobre abusos, estupro e depressão.

Os atores Dylan Minnete, que faz Clay, Katherine Landford, que faz a vítima de abuso e suicida, Hanna, Justin Pretince, que faz o acusado de estupro, Bryce, e Alisha Boe, que faz outra vítima de abuso sexual, Jessica, fazem questão de afirmar que "fazem" o personagem tal.

Didaticamente e pausadamente, explicam que é uma série de ficção, que aborda questões difíceis do mundo real, como uso de drogas, abuso sexual e suicídio.

Esperam que com o programa eles estimulem conversas.

Mas se um espectador está passando por algum desses problemas, talvez não seja uma série apropriada para ele(a).

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Ou melhor seria assistir ao lado de um adulto confiável.

Estimulam os que ficaram tocados a conversar com pessoas de confiança.

Aconselham a ligar para um serviço de auxílio da região ou acessar o site 13ReasonsWhy.info.

O mesmo alerta é feito no final de cada episódio.

O que se justifica, pois na solidão do mundo contemporâneo, muitos adolescentes ficaram tocados com a série e poderiam repetir a onda de suicídio em massa, como no caso do livro de Goethe, O Sofrimentos do Jovem Wherter.

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 Foto: Estadão

 

A história de amor entre um jovem que amava uma garota, Charlotte, que foi prometida em casamento para outro, e originou na morte do protagonista, é considerado o abre alas do romantismo e abalou a juventude alemã do século 18.

No site 13ReasonsWhy.info, aparece em letras garrafais: SE VOCÊ PRECISA DE AJUDA, FALE COM ALGUÉM.

Os americanos são orientados a ligar para National Suicide Prevention Lifeline (1-800-273-8255) ou acess//ar http://www.suicidepreventionlifeline.org.

Se estiver no pico de uma crise, aconselham a digitar REASON para o número 741741.

Uma aba indica serviços de apoio de praticamente todos os países, da Espanha à Arábia Saudita.

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Aos brasileiros, indica o telefone 188 do nosso conhecido CVV (Centro de Valorização da Vida), ou pelo site cvv.org.br.

Todo cuidado se deve à polêmica levantada na estreia da série em 2017.

Pelas redes sociais, críticos e psiquiatras questionaram se ela não poderia funcionar como um gatilho para quem sofre de depressão ou tem tendências suicidas.

Ao jornal O Globo de março de 2017, Carmita Abdo, presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), disse: "Não é uma opinião pessoal, e sim um fato: a veiculação ou divulgação de um suicídio pode inspirar pessoas que pensam no assunto. Se, por um lado, estamos nos solidarizando pela Hannah e mostrando os riscos que ela pode sofrer dentro de situações cotidianas, por outro estamos, talvez sem saber, dando munição para muitos indivíduos que sofrem de desequilíbrio mental. Uma saída para a ficção é falar sobre o suicídio como algo que se pode combater, em vez de se afirmar somente que é um evento horrível."

Por precaução, a produção arregaçou as mangas.

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Opinião por Marcelo Rubens Paiva
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