Quando admitimos nossa estupidez.
Como é bom reconhecermos nossa ignorância.
Como é bom perguntar aquilo que o superego e a vaidade inibem.
Fernanda Torres resolver assumir sua estupidez para alguns assuntos e ir atrás de entender o que não compreendia.
Há oito anos, gravou o piloto da série Minha Estupidez, com seu vizinho João Ubaldo Ribeiro.
O programa estreia finalmente dia 14 de novembro no GNT.
Fernanda é uma espécie de representante da obra de Ubaldo, pois levava [leva] no teatro a irresistível obra que se tornou um monólogo, A Casa dos Budas Ditosos.
Mas mentia nas entrevistas ao afirmar que, sim, tinha lido Viva o Povo Brasileiro, o grande clássico do autor baiano.
A entrevista com Ubaldo é sensacional.
Ele conta que durante anos treinava no espelho uma risada simpática, até ele virar um "Ah-ha-hista".
E ela, que acabou lendo o livro, destrincha a obra, com Evandro Mesquita atuando como o índio canibal, Caboco Capiroba, que come e analisa a carne de um holandês.
Cada entrevista é entremeada com uma obra de ficção, entrevista com o convidado e humor.
Nos próximos episódios:
O cientista Antônio Nobre visita O Inimigo do Povo, de Ibsen. E relembra a faculdade de agronomia, onde aprendeu a fabricar fertilizantes.
Com a antropóloga indigenista Manuela Carneiro da Cunha, que estudou com Lévi-Strauss, conhecemos o mito da origem do homem branco do povo Timbira, da tribo Kanela, do Maranhão, a escravidão indígena, o genocídio e o indianismo.
Fernanda aparece hilária como repórter na praia de Porto Seguro esperando as caravelas de Cabral. Evandro Mesquita faz um xamã.
O episódio da Ministra Carmen Lúcia é ilustrado pela cena do julgamento de O Mercador de Veneza, de Shakespeare.
Caetano Veloso conta com trechos de Panamérica, de José Agrippino.
Caetano lê trechos dos Tristes Trópicos, de Claude Levy Strauss, que Fernanda diz que mudou a sua vida: "Eu me valho da minha ignorância, da curiosidade onívora e de uma certa franqueza, que me leva a admitir, em público, que não sei o que é solipsismo, nem quem são Melpomene e Thalia, além de confessar que passei três anos mentindo que havia lido Viva o Povo Brasileiro."
Melpomene e Thalia, explica Ubaldo, que apanhava do pai, para ler, são as musas da tragédia e comédia.
A série é dirigida por Mini Kerti e produzida pela Conspiração Filmes.
Ela nos faz querer ler mais, aprender, ir atrás das coisas, sem nos sentirmos totalmente ignorantes ou termos vergonha de perguntar.
Evandro está sensacional; revela como é bom ator.