Triste fim da cena teatral brasileira. Digo, do chamado "teatrão", o bom teatro comercial.
O circuito undeground ainda pulsa. Já o tradicional...
Eles andam às moscas.
Se nas grandes capitais, como Paris, Nova York, Londres, Berlim, eles lotam e abrem sessões à noite e até às 14h, no Brasil o tradicional e bem localizado Teatro do Leblon, com três salas (Fernanda Montenegro, Marília Pera e Tônia Carreiro), suspende as atividades.
Os bares na Rua Conde Bernadotte, na galeria do teatro, continuam lotando; o carioca continua prestigiando a comida de boteco da Academia da Cachaça e o chope.
Já a cultura ficou para trás.
A temporada da peça O Garoto da Última Fila, a estrear no fim do mês, foi cancelada.
O proprietário do complexo, Wilson Rodriguez, afirmou para a Veja Rio que não tem mais público, e só reabrirá se alguma peça tiver "relevância e consiga dar algum lucro".
O produtor teatral, Eduardo Barata, comentou na sua página do Facebook:
"Triste, muito triste... Inacessível pagar mínimos dos teatros do Shopping da Gávea, R$ 17 mil reais semanais. Falta de público pagante. Apenas um jornal de grande repercussão na cidade sem gestão pública no Estado e uma cidade caótica".
"Mais do que nunca, nós profissionais da cultura temos que nos unir, discutir e cobrar a manutenção de políticas públicas para o nosso setor, em todas as instâncias", conclui.
Era a ambição de qualquer agente cultural ter uma peça em cartaz numa daquelas salas bem localizadas e com bom maquinário.
Hoje, o proprietário recebe propostas da Igreja Universal, para desespero da classe teatral.
Pode-se passar horas listando as causas: as leis de fomento, que ciaram uma dependência da arte com patrocinadores, derrubaram a qualidade dos espetáculos e inflacionaram o aluguel de salas; a decadência econômica da cidade; a violência urbana; Netflix e outros canais de vídeo e filmes; o monopólio de musicais; a epidemia das carteirinhas de estudante falsificadas...
O fato é que as grandes filas e disputas por ingressos para assistir aos grandes artistas se dissiparam.