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Cinema, cultura & afins

Opinião|Virna Lisi (1936-2014)

Virna Lisi, que morreu aos 78 anos, foi atriz conhecida por sua beleza. Não havia adolescente dos anos 1960 que não sonhasse com ela, sonhos de conteúdo impróprio. Linda, loira, olhos grandes e separados, enchia a tela, como se diz no jargão do cinema. Por esse talento inato, foi por muitos chamada a "Marilyn Monroe italiana". Talvez coubesse a ela a mesma anedota que o diretor Billy Wilder contava a respeito de Marilyn. Quando lhe perguntaram como suportava uma estrela indisciplinada, que faltava aos ensaios, bebia e tinha dificuldade em decorar diálogos, Wilder respondia: "Tenho uma tia velha muito compenetrada, de boa memória e responsável, mas ninguém pagaria um cent para vê-la numa tela de cinema". É isso. Beleza vale. Sobretudo no cinema e num certo tipo de cinema.

Foto do author Luiz Zanin Oricchio
Atualização:

Essa italiana nascida em 1936 chama-se de fato Virna Peralisi. E foi a presença marcante que deixava na película que a levou a fazer filmes na Itália, na França e nos Estados Unidos. Adolescente, começou a carreira com ...E Napoli Canta (1953). Foi engatando trabalhos como La Donna Del Giorno (1957), Homicidio (1963) e Rômulo e Remo (1961), um daqueles épicos meio bregas, grandiloquentes, mas que enchiam os cinemas naquele tempo e faziam a fortuna dos produtores. Equivalentes aos Senhor dos Anéis e Jogos Vorazes de hoje.

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Nos Estados Unidos, brilhou ao lado de Jack Lemmon em Como Matar sua Esposa (1965). Também nos EUA, contracenou com Tony Curtis em Com Minha Mulher, não, Meu Senhor. Comédias apimentadas, sem grande pretensão e que se valiam da presença cênica dos atores e da voltagem erótica da atriz.

De volta à Europa, e com a beleza talvez já perdendo frescor, buscou outros tipos de papel. Há sempre um momento, na vida de uma atriz de carreira turbinada pela aparência favorável, em que deseja mostrar que é mais que um rosto bonito e um corpo escultural. Que vai além da fortuna genética. Para manter a comparação, aconteceu também com Marilyn em Os Desajustados, de John Huston, seu magnífico último trabalho, pouco antes de morrer de overdose.

Mas a Virna não coube o desfecho trágico da sua colega norte-americana. Teve tempo para reafirmar uma carreira menos banal, fazendo belos filmes como Arabella (1967), de Mauro Bolognini e Le Dolci Signore 1968), de Luigi Zampa. Brilhou também em A Árvore de Natal, de Terence Young, e O Segredo de Santa Vitória (1969), de Stanley Kramer. Trabalhou ainda com diretores importantes como Gianni Amelio (I Ragazzi di Via Panisperna), Mario Monicelli (Casanova 70) e Luigi Comencini (Buon Natale, Buon Anno), entre outros.

Por ironia, chegou a ápice num papel de velha, ao receber um prêmio de melhor atriz em Cannes pela interpretação da malévola Catarina de Médicis em Rainha Margot, de Patrice Chéreau. No caso deste filme de 1994, a beldade já não era mais Virna e sim uma deslumbrante Isabelle Adjani no papel-título. O tempo havia passado, mas o talento sedimentou-se. Por esse papel, Virna ganhou também o César, prêmio francês equivalente ao Oscar.

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Sua despedida do cinema foi com o filme O Mais Belo Dia da Minha Vida, de sua conterrânea Cristina Comencini, em 2002. Trabalhou muito na TV italiana, e participou de varias séries. Mas o essencial de sua existência, ela deixou no cinema.

Opinião por Luiz Zanin Oricchio

É jornalista, psicanalista e crítico de cinema

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