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Cinema, cultura & afins

Opinião|Uma lágrima para Álvaro de Moya

Estudioso das histórias em quadrinhos, foi um dos pioneiros da TV no Brasil, entendia muito de jornalismo, cinema e literatura. E, acima de tudo, era um grande sujeito

Foto do author Luiz Zanin Oricchio
Atualização:
 Foto: Estadão

 

Acabo de saber que Álvaro de Moya nos deixou. 87 anos, bem vividos.

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Conheci o Álvaro quando o entrevistamos, Rô eu, pelo lançamento de um dos seus livros sobre quadrinhos, lá pelo início dos anos 1990. Acho que na Escola de Propaganda e Marketing, em Higienópolis. 

Não era bem a minha área de interesse, mas jornalista, em certo ponto da carreira, faz de tudo, frequenta qualquer praia, é um clínico geral da notícia. E, por isso mesmo, recebe surpresas agradáveis (e outras, nem tanto).

A primeira surpresa foi que o livro do Moya era muito bom, sólido, divertido, gostoso de ler. Acho que era o Shazan, ou uma de suas reedições. Mas não tenho certeza. Talvez fosse outro, com certeza sobre HQs.

A outra boa surpresa foi que o autor era também uma pessoa divertida, consistente e ótimo conversador. O repertório dele era grande, diversificado. É agora lembrado como especialista em quadrinhos, mas foi homem de TV, na verdade um dos pioneiros da TV no Brasil. Adorava literatura, música e cinema. Um daqueles caras que têm assunto sobre qualquer coisa, do futebol à física quântica, ao contrário dos chatos monotemáticos que prevalecem hoje e nos matam de tédio com seus interesses únicos.

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Depois desse primeiro contato, de vez em quando a gente se encontrava e conversava. Encontros não marcados, numa sala de cinema, numa livraria, num restaurante, num bar. Então a gente aproveitava para botar o papo em dia. Sem sermos íntimos, fomos desenvolvendo esse tipo de amizade à distância tão típica de São Paulo, a cidade que separa as pessoas. Até que não nos vimos mais. Eu lia sobre ele e tenho certeza de que ele me lia no jornal. 

Quem também gostava muito dele era meu querido amigo Jotabê Medeiros, este sim um conhecedor e apreciador de quadrinhos, ou de Grafic Novels, como eles gostam de dizer.

Acho que o Moya arrumou para o Jota uma entrevista com o Will Eisner, pelo que ficou merecedor de gratidão eterna. Eisner é o máximo, o que é perceptível até para um leigo como eu.

Moya era meio imprevisível. Uma vez, muitos anos atrás, eu estava lançando um livro em Santos, na Livraria Realejo, e quem aparece, tarde da noite? O Moya, com sua mulher, Claudia(muito mais jovem, morreu antes dele). Desceram a serra apenas para pegar um autógrafo e bater um papo de fim de noite.

Álvaro Moya era um show de gente. Váem paz, amigo. Você viveu bem.

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Opinião por Luiz Zanin Oricchio

É jornalista, psicanalista e crítico de cinema

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