Esta noite sonhei com uma música. Não é comum. Mas acontece. Sonhei com Tema do Boneco de Palha e ouvia, dentro do meu sonho, distintamente, a interpretação desta música, de Vera Brasil, por Rosinha de Valença.
Quem?, perguntará algum jovem. Rosinha de Valença, uma das maiores violonistas da época da bossa nova. Alguns a chamavam de "Baden Powell de saias". Era, salvo engano, a única mulher solista de violão da época. Vivia fazendo shows e era figurinha carimbada do programa O Fino da Bossa, de Elis Regina, onde a vi várias vezes. Depois, Rosinha foi tocar no exterior, como fizeram outros instrumentistas brasileiros.
Fiquei com essa lembrança ao longo do dia, porque admirava muito Rosinha e me lembrei que ela teve uma morte muito dura. Sofreu uma parada cardíaca e ficou 12 anos em coma até morrer.
Enfim, cumpri minha caminhada na praia, nadei, almocei e fui dar uma dormidinha antes do futebol. Coloquei no canal de música da NET e escolhi bossa nova. Ouvi umas duas músicas e, em seguida, o que toca? Tema do Boneco de Palha, com Rosinha de Valença.
Coincidência? Sincronismo, alguma coisa desse tipo? Como diria o dr. Freud, quando conversava com o místico Jung, deve haver alguma explicação racional para tudo isso. Ou nenhuma. Digamos que foi coincidência e fiquemos por aqui. Convivo bem com mistérios e fatos inexplicáveis.
Em todo caso, toda essa história serviu de pretexto para ouvir Rosinha. Encontrei várias gravações dela na internet, inclusive o belíssimo LP que ela fez para a Elenco e que, entre outras músicas, contém o inevitável Boneco de Palha. O disco, se não me engano, é de 1963. Ouvi também coisas mais recentes de Rosinha, como as suas interpretações para dois dos meus choros favoritos - Ingênuo, de Pixinguinha, e Pedacinhos do Céu, de Waldir Azevedo. Duas aulas de inspiração e delicadeza. E nem preciso dizer o quanto andamos necessitados de elegância, delicadeza e alguma inspiração.
Rosinha era show. Ouça e me diga.