Sempre admirei a obra de Rubens Gerchman, em especial pelo diálogo que ele estabelecia entre "o exterior" e o "interior". Quer dizer, como se ligava em seu momento histórico e escolhia formas para expressá-lo, comentá-lo e, nos limites da arte, intervir. Não por acaso, optou por uma nova figuração, talvez entendendo que o momento não comportava a abstração etérea e distanciada.
Tornou-se clássico também lembrar que uma de suas obras, a tela A Bela Lindonéia, ou Gioconda de Subúrbio, de 1966, deu origem, dois anos depois, ao bolero de Caetano e Gil, interpretado por Nara Leão no disco Tropicália - Panis et Circenses.
Diálogo entre artes, prática fértil dos anos 60, hoje desaparecida. A tela é enigmática, em sua beleza suburbana. A canção a leu como comentário à ditadura militar, com a vigilância policial ostensiva e desaparecidos políticos.
O artista antenado em seu tempo é sempre maior.
Adendo: quem quiser ler o belo texto de Antonio Gonçalves Filho sobre a vida e a obra de Rubens Gerchman, publicada hoje no Caderno 2, deve clicar aqui.