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Opinião|Os bons latinos em Gramado

 

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Foto do author Luiz Zanin Oricchio
Atualização:

 

Ator Emilio Barreto, Produtor Esteban Lucangioli e o Diretor Luis Zorraquin do longa Metragem Estrangeiro "Guaraní" - Foto: Cleiton Thiele/Pressphoto

 

GRAMADO - Por sorte dois concorrentes latinos afastaram a má impressão causada pelo concorrente cubano, Espejuelos Oscuros. Carga Sellada, da Bolívia, e Guarani, do Paraguai, deixaram boa impressão no público (e na crítica). Não, não são geniais, mas são filmes interessantes, com propostas narrativas que não se encontram no arroz com feijão servido nas salas de cinema convencionais.

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Carga Sellada, de Julia Vargas, marca o périplo de um grupo de policiais encarregado de transportar uma misteriosa caixa pelo altiplano. Ninguém sabe ao certo o que ela contém. Mas não parece ser coisa boa. Na travessia, por trem, encontram resistência de grupos de indígenas organizados, que temem a contaminação de suas terras e gado pelo conteúdo da caixa. Conflitos humanos, e até um caso de amor, movimentam o filme. Nada genial, repito, mas interessante, ao menos.

Bem melhor é Guarani, de Luis Zorraquin, sobre um avô e sua neta que saem do interior do Paraguai e partem para Buenos Aires atrás da mãe da menina, que, por motivos ignorados, se mudou para a capital argentina. O avô, Atilio (Emilio Barreto) é orgulhoso de sua origem e só fala guarani. Entende o espanhol, mas não o fala, como se isso pudesse conspurcar sua pureza étnica.

Em entrevista, o ator Emilio Barreto citou o grande escritor Roa Bastos: "O Paraguai enamorou-se da desgraça desde o século 19". Querendo talvez dizer que não havia oportunidade para os paraguaios a não ser que emigrassem. Para o Brasil ou para a Argentina. Daí ser muito natural que a mãe de Iara, a neta de Atilio, fosse tentar a sorte em Buenos Aires.

Atilio é pescador e dono de um velho barco de motor cansado. Mesmo assim, ele resolve enfrentar as águas e ir atrás da filha, em companhia da neta. Desse modo, pelo menos em parte, Guarani é um river movie, bastante interessante e lacunar. Avô e neta interpretam bem. Ela (Jazmin Bogarin) por sua graça e espontaneidade. Emilio porque é um grande ator em seu país.

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A atriz Liz Marins. Foto: Cleiton Thiele/Pressphoto

 

Homenagem 

O homenageado da noite seria o cineasta José Mojica Marins, criador do personagem Zé do Caixão e, de rústico no inicio de carreira, tornado cult por parte da critica. Mojica, que completou 80 anos, não veio a Gramado, mas mandou a filha, cognome Liz Vamp, que desfilou no tapete vermelho e recebeu em nome do pai o Troféu Eduardo Abelin.

 

Opinião por Luiz Zanin Oricchio

É jornalista, psicanalista e crítico de cinema

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