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Cinema, cultura & afins

Opinião|O Globo de Ouro dos protestos e dos bons filmes

Cerimônia teve a revolta das mulheres contra o assédio em Hollywood; de Oprah Winfrey veio a fala mais articulada e incisiva, e Três Anúncios para um Crime ganhou o troféu principal, melhor filme de drama.

Foto do author Luiz Zanin Oricchio
Atualização:
 Foto: Estadão

 

Quem viu a cerimônia do Globo de Ouro sabe que a "noite dos vestidos pretos" foi marcada pelo protesto das mulheres contra os recentes casos de assédio sexual em Hollywood.

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Trata-se de um marco nessa questão: não se aceita mais esse tipo de comportamento masculino. O mundo está mudando também quanto a questões raciais e de gênero. Discriminação e violência contra mulheres, negros, indígenas e grupos LGBT não são mais tolerados. E já era tempo. Respeito com os outros deve ser o fundamento das relações. 

O discurso que mais marcou esse limite foi o de Oprah Winfrey. Sincera, emotiva e lúcida, ela aludiu aos casos recentes e atrelou-os a antigas lutas contra a discriminação racial.

Concluiu que as sociedades têm seus tempos. Luta-se, às vezes de maneira desesperançada, por determinadas causas. Chega o tempo em que essas causas, justíssimas, acabam sendo abraçadas pela sociedade, ou por sua maioria. É um processo, que chega a determinado ponto depois de haver passado por etapas, idas e vindas, recuos. A natureza não dá saltos; nem a vida social, infelizmente.

Sobre os vencedores, algumas palavras.

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Três Anúncios para um Crime, o grande vencedor, é um belo filme. Vai à América profunda para contar a história da mulher (Frances McDormand, melhor atriz) que não se conforma com a impunidade do assassino e estuprador de sua filha. Tem clima e bom andamento. Lembra às vezes aquele universo ríspido dos Coen.

A melhor comédia é Lady Bird: É Hora de Voar, direção da cult Greta "Frances Ha" Gewig. Saoirse Ronan (melhor atriz) é a adolescente em conflito com a mãe. Típico filme indie, sobre a fase do desapego ao ninho. É legal, tem frescor e imagina-se que a personagem seja alter ego da diretora, embora esta negue que seja uma autobiografia.

Como estava previsto, Gary Oldman ganhou como melhor ator por O Destino de uma Nação. Não tinha prá mais ninguém. Sua caracterização como Winston Churchill é magnífica. Evoca uma fase crucial da guerra, os dias de maio de 1940 quando Churchill tem de enfrentar a facção política que defende um acordo com Hitler. Esse período tem retornado em outros filmes, como Dunkirk e Churchill, situados durante a dramática retirada de Dunquerque.

James Franco ganhou melhor ator de comédia pelo filme que ele próprio dirigiu. Um filme a respeito de outro. Franco interpreta o excêntrico cineasta Tommy Wiseau que, com recursos próprios, dirigiu nos anos 1980 The Room, considerado "o pior filme de todos os tempos", e deixando Ed Wood no chinelo. Muitos colegas implicam com Franco. Como não tenho nada a ver com isso, diverti-me com este O Artista do Desastre.

Allison Janey ganhou como coadjuvante em Eu, Tonya, outro filme que achei interessante. Segue a carreira da patinadora, treinada para vencer desde a infância pela mãe tirânica e desbocada (Allison). É também um mergulho na América, na compulsão pelo sucesso a qualquer preço e independente de qualquer noção ética.

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A melhor animação é Viva - A vida é uma festa, da Pixar/Disney. Com história ambientada na Festa do Dia dos Mortos, no México, é uma das melhores animações "industriais" que vi nos últimos anos. Embarca na cultura mexicana com notável colorido e senso musical. Beleza de filme.

Abaixo, a premiação completa:

CINEMA

Melhor filme de drama

Três Anúncios Para um Crime

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Melhor atriz em filme de drama

Frances McDormand, Três Anúncios Para um Crime

Melhor ator em filme de drama

Gary Oldman, O Destino de uma Nação

Melhor filme de comédia ou musical

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Lady Bird: É Hora de Voar

Melhor atriz em filme de comédia ou musical

Saoirse Ronan, Lady Bird: É Hora de Voar

Melhor ator em filme de comédia ou musical

James Franco, O Artista do Desastre

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Melhor atriz coadjuvante

Allison Janney, Eu, Tonya

Melhor ator coadjuvante

Sam Rockwell, Três Anúncios Para um Crime

Melhor diretor

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Guillermo Del Toro, A Forma da Água

Melhor roteiro

Martin McDonagh, Três Anúncios Para um Crime

Melhor filme em língua estrangeira

Em Pedaços (Alemanha/França)

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Melhor canção original

This Is Me, de Benj Pasek e Justin Paul para O Rei do Show

Melhor animação

Viva: A Vida é uma Festa

Melhor trilha sonora

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Alexandre Desplat, A Forma da Água

 

Opinião por Luiz Zanin Oricchio

É jornalista, psicanalista e crítico de cinema

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