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Opinião|Mostra 2016. Nunca Vas a Estar Solo

Foto do author Luiz Zanin Oricchio
Atualização:

 

Juan é sócio de uma fábrica de manequins e vive sozinho com seu filho, Pablo. Há uma diferença grande de idades entre os dois. Juan poderia ser avô de Pablo. Em qual dos personagens vai recair o foco de Nunca Vas a Estar Solo, de Alex Andwandter, mais um testemunho do ótimo momento por que passa o cinema do Chile? Ora em um, ora em outro.

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O foco flutuante não é a menor das ambivalências desse filme, que faz um contundente retrato da homofobia, sem no entanto limitar-se à mera denúncia. No início, a figura de Juan (Sérgio Hernandez) pouco aparece e Pablo (Andrew Bargsted) toma à frente. O rapaz é homossexual e vamos acompanhá-lo em suas aventuras amorosas. Mas também na companhia de uma garota, sua amiga, e nas relações com uma gangue violenta do bairro.

Depois, é o pai quem toma a frente e o filme ganha em tonalidade emotiva, pois Juan vê-se abandonado por todos, acuado por todos os lados e não abandonará jamais a defesa do filho. Seria preciso mesmo um grande e experiente ator como Sérgio Hernandez para dar corpo, voz e rosto a esse homem derrotado pelos fatos, acabrunhado com o mundo e que, apesar de tudo, mantém a sua dignidade. E sua humanidade diante da tragédia.

Alex Andwandter usa linguagem múltipla para construir sua narrativa. De um realismo até cru em certas cenas, salta para um tom mais carregado de simbologia e solenidade em outras. A estratégia parece ser a de nos arrancar da identificação mais imediata e fácil com os personagens para vê-los como representantes de uma desumanidade mais geral, que passa e começa pela recusa da diferença e da tentativa de eliminá-la, até de maneira física. A escolha produz uma espécie de distanciamento que, longe de alhear o espectador, mergulha-o de maneira mais intensa na reflexão.

Nunca Vas a Estar Solo é o primeiro longa-metragem do diretor. Um certo exagero na simbologia e na alegoria se explica talvez por isso. O talento está aí. Falta, talvez, depurá-lo pois, como se sabe, o gosto pela simplicidade chega com os anos.

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Opinião por Luiz Zanin Oricchio

É jornalista, psicanalista e crítico de cinema

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