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Opinião|Jurado sai da comissão do Oscar e aprofunda crise de legitimidade da indicação

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Foto do author Luiz Zanin Oricchio
Atualização:

 

O cineasta e produtor mineiro Guilherme Fiúza Zenha anunciou em sua página do Facebook que está deixando a comissão que vai eleger o filme brasileiro candidato a uma das vagas para o prêmio da Academia de Hollywood reservado a produções estrangeiras.

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A defecção de Zenha vem na esteira de uma série de contestações à comissão escolhida pelo prêmio e considerada hostil à candidatura de Aquarius, de Kléber Mendonça Filho.

Acontece que Kléber é crítico em relação ao governo provisório e considera, como boa parte do setor artístico, da intelectualidade e meios acadêmicos, golpe o impeachment contra a presidente afastada Dilma Rousseff. Ele e sua equipe denunciaram o fato na escadaria do Palácio de Cannes - o filme foi o único representante no festival francês, considerado o mais importante do mundo.

Desde então, ao que parece, o filme é considerado "inimigo" do novo regime. A comissão de escolha do Ministério da Cultura inclui um jurado ostensivamente hostil a Kléber. Sua presença vem sendo contestada.

Ontem, os cineastas Anna Muylaert e Gabriel Mascaro retiraram seus filmes Mãe Só Há Uma e Boi Neon da disputa pela vaga no Oscar. Em nota, Mascaro fala do seu "desconforto em participar de um processo seletivo de imparcialidade questionável".

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Na véspera, o Ministério da Justiça, em decisão surpreendente, havia considerado Aquarius impróprio para menores de 18 anos.

Como todos indícios apontam na direção de uma perseguição a Aquarius, o assunto ainda promete render. Trata-se de um caso particular dentro de um contexto maior, o questionamento de legitimidade do processo político-judicial em curso no país.

Por mais que os "formadores de opinião" se empenhem em "normalizar" esse processo, boa parte da opinião pública esclarecida, incluindo nomes como Raduan Nassar, Chico Buarque, Fernando Morais, Marilena Chaui, Roberto Schwarz e outros, questionam vivamente sua procedência. Esta será a palavra-chave nos próximos anos: legitimidade.

A hostilidade a um filme não é bom cartão de visitas a um governo provisório tão questionado.

 

Opinião por Luiz Zanin Oricchio

É jornalista, psicanalista e crítico de cinema

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