Acho que era Marilena Chauí quem citava em suas aulas a resposta de Merleau-Ponty à pergunta "para que servem os filósofos?" "Servem para não dar assentimento sem os considerandos", dizia o filósofo. Ou seja, para que questionem os caminhos pelos quais se chega a uma "certeza" estratificada e, por isso mesmo, ponham em crise essa certeza apressada.
Exumo tudo isso da memória ao ler alguém, em minha timeline no Facebook, assinar uma catilinária contra os intelectuais brasileiros. Segundo esse alguém, exultante com as manifestações de rua do domingo, intelectuais não prestam para nada; se forem intelectuais de esquerda, menos ainda. É gente nociva. Procuro pelo perfil da pessoa e descubro, pasmo, tratar-se de um professor universitário, titular em uma universidade federal deste país.
Bem, longe de mim colocar intelectuais, de esquerda ou não, em qualquer olimpo ao abrigo de críticas. Pelo contrário, como entendo a função intelectual sendo, sobretudo, crítica, estes deveriam ser os primeiros a se colocar em xeque. O que não significa ajoelhar sobre o milho em público, ou autoflagelar-se como era uso nos regimes totalitários. Mas sim tomar certas distâncias em relação ao que pensa, age e como se coloca no espaço público diante de uma situação grave (em muitos aspectos) como é a brasileira atual.
Enfim, criticar os intelectuais é quase uma obrigação; desprezá-los parece mais profissão de fé na burrice; nessa ignorância tosca que saiu do armário e agora se exibe de modo carnavalesco. Nas ruas, nas salas de aula, nas redes sociais, nas instâncias de poder. O Brasil se tornou um país boçal, é preciso reconhecer. E fazer frente a essa boçalidade ostentatória talvez seja uma das tarefas (inglórias) dos intelectuais. Inglória porém necessária.
Por exemplo, leio os jornais e descubro que as 400 mil pessoas que saíram às ruas no domingo representam "a opinião pública nacional". Será mesmo? Aquela gente representa todo o País? Não sei. A mim não representa. Todo mundo, com um mínimo de bom senso, desconfia que amplos setores da, voltemos a ela, opinião pública, não concorda, por exemplo, em fazer de um juiz de primeira instância um super-herói nacional. Essa indigência mental, essa índole de manada, precisa ser combatida de alguma forma. E não vejo outra forma de combate se não for pelas ideias.
Não dá para desprezar intelectuais numa hora dessas. Pode-se, sim, criticá-los por participar pouco daquilo que em outras eras foi chamado de "a batalha das ideias". Estamos perdendo essa luta por falta de quorum.
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