Ok, mas gostei. De fato recheado de clichês, Gran Torino tem lá sua grandeza. Clint é Walt Kowalski, que começa o filme enterrando a mulher depois de um longo casamento. Ele não se dá com os filhos e muito menos com as noras. Mora num bairro agora habitado por imigrantes. Ele próprio é um americanão violento, meio racista, hasteia a bandeira na porta da casa, foi à guerra da Coréia, trabalhou para a Ford durante 50 anos e condena o filho por vender carros japoneses. No entanto, a convivência forçada com orientais irá ensinar algumas coisas a esse velho intolerante. Tudo, se você for pensar bem, já visto em dezenas de filmes anteriores.
Mesmo a interpretação de Clint não é isenta de lugares-comuns, um esgar às vezes perturbador naquela tão expressiva máscara de rugas. Mas, mesmo assim...Estamos diante de algo que não é cinematograficamente neutro. Algumas coisas fundamentais estão ali, e de maneira pungente, como a consciência sofrida de que o mundo não é mais o mesmo e de que ele próprio, o personagem, mudou, envelheceu e parece próximo dos atos finais dessa tragicomédia chamada vida.
Então, o filme é sobre as coisas que mudam, e de maneira inevitável. E é também sobre algumas (poucas) coisas que não mudam, ou pelo menos não mudam tão rápido, como certos valores sólidos, a ética, tudo isso. É filme de um humanista. E essa condição o coloca acima de alguns possíveis defeitos. Conduzindo com a sobriedade de sempre, Clint parece querer chegar aos valores simples e isso pede uma mise-en-scène depurada.