Foto do(a) blog

Cinema, cultura & afins

Opinião|É Tudo Verdade 2018: Birri, equilibrista entre o sonho e a razão

'Ata seu Arado a uma Estrela', de Carmen Guarini, destaca a personalidade e a importância do cineasta, escritor e poeta argentino Fernando Birri, que morreu em dezembro de 2017

PUBLICIDADE

Foto do author Luiz Zanin Oricchio
Atualização:

Fernando Birri (à dir.) conversa com Gabriel García Marquéz Foto: Estadão

 

 

Uma rápida dica aos fãs do cinema latino-americano: não deixem de ver Amarre Seu Arado a uma Estrela, em louvor ao grande Fernando Birri, que nos deixou em dezembro do ano passado.

PUBLICIDADE

O filme é dirigido por Carmen Guarini a partir de imagens tomadas quando Birri, após longa ausência, voltou à Argentina em 1997 para rodar um documentário sobre os 30 anos da morte de Che Guevara (9 de outubro de 1967). Este projeto o levou de La Higuera, onde o Che morreu assassinado, até Montevidéu e Buenos Aires. Birri entrevista vários intelectuais sobre o Che. O destaque, para mim, é a conversa com o grande escritor Ernesto Sábato (De Heróis e de Tumbas é uma obra-prima da literatura universal).

http://cultura.estadao.com.br/blogs/luiz-zanin/fernando-birri-um-mascate-de-imagens/

Carmen registrou seus encontros com Birri naquela ocasião em fitas VHS. Recupera esse material e o completa com filmagens recentes, feitas na casa do cineasta, no bairro de Trastevere, em Roma.

O filme joga luz sobre o personagem e recorda a importância de Birri para a nossa cultura. Como diretor, assina filmes essenciais como Tiré-Dié e Os Inundados. Como gestor cultural, fundou duas escolas importantes - a Escola Documental de Santa Fé, sua terra natal, e A Escola de Cinema e TV de San Antonio de los Baños, em Cuba.

Publicidade

Ao longo do filme se discute muito a questão da utopia. Ela nunca está no local onde estamos. Está sempre na linha do horizonte, inatingível, mas nos faz mover quando buscamos alcançá-la. Sem utopias, sem sonhos, somos seres imóveis. Amargos, pessimistas, ressentidos, presos à dura circunstância do momento. A contrapartida: sem algum senso de realismo, somos meros sonhadores, que não levamos em conta as possibilidades e os limites do real para atingirmos nossas metas.

Birri, em seus filmes, e em seu trabalho como gestor, animador cultural, escritor, desenhista e poeta foi um equilibrista entre o sonho e a razão. Um utopista com pés no chão. Daí vem o sentido mais profundo do título: Ata tu Arado a uma Estrella. 

 

(Hoje às 15 h e quinta, às 15h, no Itaú Cultural, Avenida Paulista, 149)

Opinião por Luiz Zanin Oricchio

É jornalista, psicanalista e crítico de cinema

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.