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Cinema, cultura & afins

Opinião|Dicas de estreias - solidão na metrópole, artistas plásticos, amores jovens e trágicos

 

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Foto do author Luiz Zanin Oricchio
Atualização:
 Foto: Estadão

 

 

 

O homem das multidões [Brasil, 2012], de Cao Guimarães e Marcelo Gomes. O formato quadrado da janela de exibição já é um fator de estranheza para este longa de Cao Guimarães e Marcelo Gomes, ligeiramente inspirado no relato homônimo de Edgard Allan Poe. Solidão urbana, com dois personagens em tom menor. Juvenal (Paulo André) e Margô (Silvia Lourenço) trabalham no metrô de Belo Horizonte e levam vidas vazias. Ele mora sozinho num apartamento tão impecavelmente limpo quando anódino. Ela se relaciona com homens pela internet. O encontro desses seres excêntricos, porém nada incomuns nas metrópoles, produz momentos de melancolia e uma doce poesia. Filmado, também, em tom menor, como convém à trama. Um passo adiante no cinema brasileiro da intimidade.

 Foto: Estadão

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Hélio Oiticica [Brasil, 2012], de Cesar Oiticica Filho

Dirigido pelo sobrinho do grande artista plástico Helio Oiticica, um dos ícones da contracultura brasileira. Com vasto material de arquivo, filmes, fotos, falas do autor, Cesar Oiticica compõe um documento em que o personagem apresenta a si próprio sem intermediação de especialistas. Forma um retrato multifacetado não apenas do criador dos parangolés e dos penetráveis, mas de toda uma época rica em ideias inventivas e convivência. Na qual aparecem seus coetâneos e afinidades eletivas, como Caetano Veloso, Gilberto Gil, Jorge Mautner, Carlos Vergara, Waly Salomão, Antonio Dias, Neville D'Almeida et caterva. Todos no circuito Nova York-Londres em plena era da revolução sexual e comportamental, enquanto aqui no Brasil comia a ditadura militar, autoritária e moralista entre outras virtudes cristãs.

 Foto: Estadão

Como na Canção dos Beatles - Norwegian Wood, (Japão, 2014), de Tran Ahn Hung

Lembra do diretor vietnamita do Cheiro da Papaia Verdade? Pois Tran Ahn Hung reaparece agora filmando no Japão essa adaptação do escritor Haruki Murakami, romance lançado aqui pela Alfaguara. Um enorme sucesso mundial com sua história de amores jovens e trágicos, num estilo meio nouvelle vague de ser.

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Toru Watanabe (Ken'ichi Matsuyama) é amigo de Kizuki (Kengo Kôra), que namora Naoko (Rinko Kinkuchi). Quando Kizuki inesperadamente comete suicídio, Watanabe resolve deixar a cidade e ir para Tóquio. Nos tempos de faculdade, durante os efervescentes anos 60, Watanabe conhece Midori (Kiko Mizuhara), uma garota de temperamento oposto ao de Naoko. Narrado em primeira pessoa (como no livro), o filme é envolvente. Pelo menos a mim pareceu. Amores jovens, desesperados, anos rebeldes como longínquo pano de fundo, e uma filmagem ora serena ora exasperada, conforme o humor bastante instável dos personagens. Tudo isso produz o encanto dessa história de ritmo lento (isso é um elogio!) e meio desalentadora. Triste e bela.

Opinião por Luiz Zanin Oricchio

É jornalista, psicanalista e crítico de cinema

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