Houellebecq, sabemos, é o escritor polêmico de livros como Partículas Elementares e Plataforma. Sempre esteve em meio a discussões e já houve quem o chamasse de escritor fascista. Ou pelo menos provocador gratuito. Ganhou o Goncourt, o principal prêmio literário francês. Bem, no filme, ele interpreta a si mesmo. É um escritor problemático, com gosto pela solidão, relacionamentos difíceis...até o dia em que é sequestrado por uma trinca de fortões e fica dependente de que lhe paguem o resgate para ser libertado.
Fosse um filme sério e poderíamos falar de "Síndrome de Estocolmo", aquela que fez o sequestrado se relacionar de maneira afetuosa com seus seqüestradores. Como estamos no registro do cômico, também essa estranha reação psicológica será tratada na chave do riso. De fato, é bastante engraçado acompanhar as discussões de literatura entre o escritor e um dos captores que leu seu ensaio sobre Lovecraft e não está de acordo sobre certas passagens. De outro lado, um fisicamente capenga Houellebecq aprenderá rudimentos de musculação e artes marciais com seus captores.
O registro cômico é sutil, como convém a uma comédia francesa e, mais ainda, quando envolve a figura midiática de um escritor. O fato é que o sequestro e isolamento do depressivo Houellebecq é tratado como se fosse a melhor coisa que poderia lhe ter acontecido. Até mesmo sua vida amorosa melhora. Para não dizer que expande o círculo de amizades para além das fronteiras habituais, formadas por outros intelectuais tão tristes e neuróticos quanto ele.
Enfim, em meio a tantos filmes muito bons, mas muitos em registro tão frio quanto a temperatura de Curitiba, O Sequestro de Michel Houellebecq revela-se um programa desopilante. E, diga-se, intelectualmente estimulante, pois as duas coisas podem (devem) andar juntas.