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Opinião|Diário do Cine PE 2012 À Beira do Caminho

RECIFE - Mesmo com os problemas técnicos, deu para sacar que a proposta de À Beira do Caminho é bastante inferior à de Dois Filhos de Francisco, o longa anterior de Breno Silveira.

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Foto do author Luiz Zanin Oricchio
Atualização:

A procura, aqui, foi por uma emoção que me pareceu fácil demais, insistente mesmo. É como se o filme fosse tributário da música de Roberto Carlos, presente ao longo de toda a história. Da fase, digamos, mais romântica e açucarada de Roberto, não daquele rock inteligente que ele produziu em alguns momentos. Esse açúcar se espalha pelo filme e o contamina.

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A história é a de um caminhoneiro, João (João Miguel), que vaga pela estrada para esquecer um determinado trauma da sua vida. (Este só será revelado na parte final). Por acaso, encontra um menino, órfão, que deseja carona para São Paulo, onde espera encontrar o pai, que não conhece.

Eis aí os elementos, que, de tão manjados, também nada têm de mal. Depende da maneira como são trabalhados. E o estilo inclina-se para o lacrimogênio e o piegas em várias passagens.

Como contraponto, a se ressaltar, a fotografia muito boa de Lula Carvalho, dominante nas áridas estradas sertanejas, que dão a impressão das grandes solidões brasileiras. A solidão do sertão, dos confins do país, que parece fazer rima com a solidão do homem triste que é João. Isso é bom, e as imagens belíssimas e tocantes.

Essas observações são feitas com ressalvas. O filme, como já disse no post anterior, foi exibido em péssimas condições de som, problema cujas causas ainda não foram apuradas. A assessoria de imprensa ficou de divulgar uma nota oficial depois de saberem o que de fato aconteceu. Se isso de fato se der, transcrevo a nota no blog.

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Como À Beira do Caminho é um filme que busca o emocional como filosofia de trabalho, não pode contar com um espectador que fica o tempo todo tentando decifrar diálogos como se fossem falados em língua estrangeira da qual ele tem domínio aproximativo. É impossível envolver-se com o filme, e envolvimento (e não reflexão) é tudo o que ele pede e oferece.

Além dos diálogos, é claro, a massa sonora em seu todo ficou comprometida, e também possivelmente a música, tão fundamental nesse projeto. Assistido, isto é, visto e ouvido em condições ideais, talvez se tenha outra impressão emocional do filme.

A impressão intelectual, porém, de diálogo pouco feliz com o melodrama, não deve se alterar.

Opinião por Luiz Zanin Oricchio

É jornalista, psicanalista e crítico de cinema

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