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Opinião|Diário do Cine Ceará 2014. O fantasma do duplo

 

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Foto do author Luiz Zanin Oricchio
Atualização:

FORTALEZA. Um curta (Fluxos, de Diego Akel) e um longa (Não Sou Lorena, de Isidora Marras) deram início à mostra competitiva do 24 Cine Ceará, sábado à noite, no magnífico Theatro José de Alencar, transformado em cinema ao longo do festival.

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Foi uma cerimônia de abertura simples e simpática, com apresentação da Orquestra de Câmera da cidade e também homenagem à atriz Deborah Secco, protagonista de Boa Sorte, de Carolina Jabor, que passa fora de concurso. Deborah ganhou seu troféu e disse, mais uma vez (como havia garantido em Paulínia, onde o filme foi apresentado pela primeira vez), que pretende se dedicar cada vez mais ao cinema. E foi isso.

Quanto aos filmes concorrentes, não decepcionaram. Fluxos é uma criativa animação feita com massinha, que se aproveita da música de Bach para dar curso à inventividade visual do diretor. Um trabalho, parece, bastante influenciado pelo canadense Norman McLaren. Bonito de ver.

Já o chileno Não Sou Lorena aposta na vertente do thriller psicológico e no tema do duplo. A protagonista, Olivia (Loreto Aravane) é uma atriz que se exaspera ao ser confundida com uma certa Lorena Ruiz. É assediada em seu celular e depois em sua própria casa, pois, parece, a tal Lorena fez muitas dívidas e agora os credores estão em sua cola. Isto é, na cola da pobre Olívia, que terá de descobrir como entrou nessa fria. Ainda por cima, a mãe de Olívia, Eleonora (a grande Paulina García, de Gloria) parece ter problemas de demência senil e exige a presença de uma cuidadora.

O que se pode dizer é que o filme é bem conduzido e logra, em determinados momentos ao menos, produzir essa sensação de kafkiana insegurança que a protagonista experimenta. Todo trabalho (literário ou cinematográfico) que se debruça sobre o tema do Doppelganger, o duplo, invade, de fato, essa seara ingrata da identidade própria colocada como problema. Ora, a identidade moderna é sempre problemática, por pouco que pensemos nela. Hoje, quando os limites entre a vida pública e a vida privada parecem cada vez menos definidos, essa identificação de cada um consigo mesmo sempre menos evidente. Quem sou eu senão a persona que projeto e os outros veem?

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É a grande questão, que tem desafiado toda uma filosofia do simulacro, e o filme passa por ela. Não se pode dizer que o faça com a profundidade e nem mesmo com a originalidade que tal tema pediria. Mas, ainda assim, Eu Não Sou Lorena é um trabalho interessante de se ver. É o primeiro longa-metragem da diretora Isidora Marras, de 27 anos, que não veio a Fortaleza porque está participando de outro festival.

Opinião por Luiz Zanin Oricchio

É jornalista, psicanalista e crítico de cinema

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