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Opinião|Diário de Veneza 2012 Um sol para Brillante Mendoza

Com Thy Womb o filipino Brillante Mendoza deixa seu hábitat natural, Manilla, e vai buscar inspiração nos confins do sul do seu país. Na ilha de Tawi Tawi, os habitantes, os Bajau, são conhecidos como "ciganos do mar". Vivem se deslocando, moram em palafitas e sobrevivem da pesca artesanal. A fé dominante é islâmica.

Foto do author Luiz Zanin Oricchio
Atualização:

Mendoza põe seu foco sobre um casal muito simpático. Ambos pescadores, mas ela também parteira. Aliás, o filme começa com um parto. Real, não encenado. Acontece que a parteira (vivida pela atriz Nora Aunor) ajuda as crianças a virem ao mundo, mas não pode ter seus próprios filhos. Assim, consente que o marido tome uma segunda esposa, mais jovem, que possa dar a ele o filho desejado. O problema será juntar o dinheiro do dote e encontrar a eleita. Haverá, no futuro, um problema com o qual ela não contava.

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Esse é o fiapo de trama num filme de vocação puramente documental e etnográfica. "Mesmo nas Filipinas essa comunidade é muito pouco conhecida", diz Mendoza. "Por isso resolvi fazer um registro daquela realidade, que me fascina muito". De fato, ele se demora longamente em imagens da pesca, da vida cotidiana, e também dos rituais, como a proposta de noivado e o casamento. O interessante são as "intervenções" da violência para mostrar que não estamos no Paraíso e sim num país com sérios problemas. Durante a pescaria, o barco do casal é atacado e o marido, ferido a bala. No casamento, sai outro tiroteio, talvez envolvendo o exército e bandidos. Ninguém se queixa. A vida continua. A dança prossegue quando cessam os disparos. É o cotidiano.

Thy Womb é um belo filme, no qual Mendoza, muitas vezes fascinado pela violência, se deixa seduzir pelo lado mais solar da vida. "São as duas faces da mesma moeda", diz ele. "Procuro apenas registrar a realidade, seja ela sangrenta ou amorosa". Falou e disse.

Opinião por Luiz Zanin Oricchio

É jornalista, psicanalista e crítico de cinema

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