PUBLICIDADE

Foto do(a) blog

Cinema, cultura & afins

Opinião|Diário de Brasília 2015 (6). Vaias no festival

Foto do author Luiz Zanin Oricchio
Atualização:
Claudio Assis no palco do Cine Brasília, tentando domar as vaias. Foto de Rô Caetano Foto: Estadão

BRASÍLIA. O diretor Claudio Assis foi vaiado e quase não conseguiu apresentar seu filme Big Jato à plateia do Cine Brasília. Além de ser apupado, foi brindado com um coro de "machista, machista" por um grupo presente no Cine Brasília. Tudo é repercussão da polêmica recente que envolveu Claudio, outro diretor pernambucano, Lírio Ferreira, e a cineasta paulista Anna Muylaert. Em debate do filme Que Horas Ela Volta?, de Muylaert, realizado no Recife, os dois foram inconvenientes e, com suas intervenções, atrapalhando a discussão do filme, que se dava no Cine da Fundação Joaquim Nabuco. Estariam alcoolizados. A instituição reagiu proibindo a presença dos dois no local por um ano e também a exibição dos seus filmes pelo menos período.

PUBLICIDADE

A diretora Anna Muylaert, no Facebook, disse que desaprovava o comportamento dos colegas, que são também seus amigos pessoais, mas não queria que fossem hostilizados por isso. Depois, em entrevistas, atribuiu ao "machismo" de ambos a atitude durante o debate. De acordo com a interpretação de Anna, Cláudio e Lírio sentiram-se incomodados ao ver uma mulher (ela mesma) ocupando o centro das atenções.

A polêmica repercutiu no Festival de Brasília. Vaiado, Claudio tentou falar várias vezes ao microfone e não conseguiu. Quem contornou a situação, com extrema habilidade, foi o ator Matheus Nachtergaele, que interpreta dois papeis em Big Jato. Com boa retórica e carisma, conseguiu reverter as vaias em aplausos e evitou o pior. Mesmo assim, Claudio Assis ainda tentou falar e disse algumas palavras. Mas não se fez entender, abafado que foi pelo grupo que vaiava, enquanto outros aplaudiam.

Em tal caso é difícil dizer quem tem razão. Ou total razão. A inconveniência de um comportamento justifica o linchamento moral dos autores? Ou vivemos um clima em que sempre é necessário eleger um inimigo de ocasião e hostilizá-lo de modo que não possa se expressar? Eis aí um caso típico em que tenta-se reparar um erro comentendo-se outro. O fato é que o germe da intolerência está entre nós e só não vê isso quem não quer.

Ah, sim. O filme é maravilhoso. No final, o mesmo grupo ainda tentou vaiar. Mas, desta vez, perdeu feio para os aplausos.

Publicidade

Opinião por Luiz Zanin Oricchio

É jornalista, psicanalista e crítico de cinema

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.