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Cinema, cultura & afins

Opinião|Diário da Mostra 2014. O Fio de Ariadne

O filme é apresentado como "uma fantasia de Robert Guédiguian". Ou seja, é entrar no jogo do diretor marselhês e entragar-se a ele, esquecendo por esse tempo do cineasta engajado, um dos poucos que sobrevivem com essa postura em meio ao cinismo do mundo atual.

Foto do author Luiz Zanin Oricchio
Atualização:

Por uma vez, Guédiguian dá uma relaxada e escreve, e filma, uma fábula deliciosa, tendo mais uma vez como protagonista, sua mulher, Ariane Ascaride. Em sua casa perfeita, ela preparou o bolo do seu aniversário à espera do marido, filhos já crescidos e casados e dos amigos. Um a um, eles telefonarão, pretextando compromissos inadiáveis e imperiosos. O próprio marido está em viagem e avisa que só retorna no dia seguinte.

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Revoltada, Ariane deixa o bolo com as velinhas acesas, pega o carro e resolve ir comemorar por conta própria. A partir desse momento, é como se ingressasse num mundo de fantasia em que as situações mais inesperadas parecem se suceder. Um jovem lhe oferece uma carona de moto, ela aceita e chega a um restaurantezinho de beira de estrada, o Café l'Olympique, onde conhece pessoas interessantes, etc.

A história caminha no ritmo mesmo da fantasia, mas sem quase apelar para elementos oníricos, desprovidos de lógica. Há, sim, uma lógica do desejo, de realizações de antigas aspirações que foram arquivadas pelas obrigações do dia a dia e pelas imposições da sociedade. Com O Fio de Ariadne, Guédiguian celebra o direito à realização dos desejos da personagem. Mesmo que, depois, seja necessário reencontrar o caminho de volta, assim como a Ariadne do mito escapa ao labirinto do Minotauro pelo fiozinho que vai desenrolando à medida que penetra no desconhecido. É, no fundo, uma bela metáfora. Podemos nos perder à vontade, desde que, no fim, encontremos um jeito de nos reencontrarmos.

Opinião por Luiz Zanin Oricchio

É jornalista, psicanalista e crítico de cinema

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