Os passageiros, em si, já compõem um microcosmo da imigração. De camponeses analfabetos, em busca apenas de melhores condições de vida, a anarquistas que viriam implantar ideias revolucionárias no território virgem da America eles terminaram a viagem e o navio se encontra ancorado nas proximidades do porto de Santos, onde desembarcarão e de onde seguirão para São Paulo.
O que é São Paulo? Terra da oportunidade para uns, misterioso e labiríntico território para outros, cercado de índios albinos que ameaçam seus habitantes. Há algo de mítico em tudo isso. Na cidade rodeada de sombras, ameaças e, em seu núcleo, a esperança.
Todo descendente de imigrantes - e Ugo é um deles - conhece histórias parecidas. A terra de destino é soma de temores e desejos. A própria ignorância do que seja fomenta essa imaginação às vezes desvairada e que encontrará seu limite no contato direto com a realidade. Mas A Cidade Imaginária é um filme da expectativa e não (ainda) da desilusão.
No fundo, celebra a coragem um tanto temerária dos viajantes (de todas as origens e não apenas italianos), que saem, muitas vezes com as famílias inteiras, ao encontro de algo do qual não fazem qualquer ideia.
De certa forma, com A Cidade Imaginária, Giorgetti avança em seu estudo cinematográfico da cidade - já retratada em filmes como Sábado, Boleiros e O Príncipe, entre outros trabalhos. A estrutura teatral dessa nova página sobre São Paulo parece perfeita para retratar a cidade que não se vê e o da qual pouco se sabe, a não ser por boatos, quer dizer, por palavras. Para o imigrante, seu destino é, antes de tudo, miragem.