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Cinema, cultura & afins

Opinião|Diário da Mostra 2012: Felicidade, Terra Prometida

Mostras de cinema megalômanas e virtualmente inabordáveis, como as de São Paulo e Rio, têm seus hits do cinema de autor, mas também escondem pequenas pérolas destinadas ao esquecimento. Uma delas é este modesto documentário Felicidade: Terra Prometida, do francês Laurent Hasse. Ele não é um Abbas Kiarostami, um Raúl Ruiz, um Manoel de Oliveira, um Marco Bellocchio ou um Ken Loach. Não vai lotar salas, nem mesmo durante essas efêmeras celebrações do cinema dito de arte. Mas tem seu valor.

Foto do author Luiz Zanin Oricchio
Atualização:

O projeto é simples, e tem a ver com a singular filosofia dos andarilhos. Colocar o pé na estrada e ver o que acontece. No início do filme, ouvimos uma voz e não vemos quem fala. Ficamos sabendo do projeto do cineasta: atravessar a França, de Sul a Norte, quebrar hábitos sedentários de parisiense e descobrir o país.

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Também ficamos sabendo, aos poucos, dos antecedentes do diretor, de um acidente de carro, um atropelamento que quase o matou. Andar de novo foi um aprendizado e uma proeza. Houve uma sequela: a perda total do olfato. Mas pernas, olhos e ouvidos parecem em bom estado.

Laurent Hasse percorre de fato seu país, durante o inverno ("para evitar os turistas") e ouve o que as pessoas têm a dizer. Registra seu cotidiano. E tem uma pergunta singela para fazer a cada uma delas: "O que é a felicidade?". Pergunta, claro, que retoma o célebre documentário de Jean Rouch e Edgard Morin, Crônica de Um Verão (1961), no qual perguntavam às pessoas da região parisiense se eram felizes.

Talvez não se descubra aí uma definição da palavra felicidade - um dos entrevistados, jogando com o termo francês bonheur, diz que a felicidade é apenas isso, bonnes heures, boas horas que vivemos. Quer dizer, algo efêmero, a ser buscado mais em si mesmo e nas pequenas coisas do que nas grandes realizações, na riqueza, ou nas vitórias. Sim, o filme tem esse lado de autoajuda, mas nunca soa banal. Além disso, Laurent Hasse tem o dom de registrar imagens belas (não bonitinhas) e também de criar empatia com os personagens que se abrem, às vezes de maneira inesperada, para seus olhos e ouvidos. Bonito filme, bastante simples, um relato em primeira pessoa, porém construído pelos olhos e ouvidos dos outros.

 

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Opinião por Luiz Zanin Oricchio

É jornalista, psicanalista e crítico de cinema

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