O projeto é simples, e tem a ver com a singular filosofia dos andarilhos. Colocar o pé na estrada e ver o que acontece. No início do filme, ouvimos uma voz e não vemos quem fala. Ficamos sabendo do projeto do cineasta: atravessar a França, de Sul a Norte, quebrar hábitos sedentários de parisiense e descobrir o país.
Também ficamos sabendo, aos poucos, dos antecedentes do diretor, de um acidente de carro, um atropelamento que quase o matou. Andar de novo foi um aprendizado e uma proeza. Houve uma sequela: a perda total do olfato. Mas pernas, olhos e ouvidos parecem em bom estado.
Laurent Hasse percorre de fato seu país, durante o inverno ("para evitar os turistas") e ouve o que as pessoas têm a dizer. Registra seu cotidiano. E tem uma pergunta singela para fazer a cada uma delas: "O que é a felicidade?". Pergunta, claro, que retoma o célebre documentário de Jean Rouch e Edgard Morin, Crônica de Um Verão (1961), no qual perguntavam às pessoas da região parisiense se eram felizes.
Talvez não se descubra aí uma definição da palavra felicidade - um dos entrevistados, jogando com o termo francês bonheur, diz que a felicidade é apenas isso, bonnes heures, boas horas que vivemos. Quer dizer, algo efêmero, a ser buscado mais em si mesmo e nas pequenas coisas do que nas grandes realizações, na riqueza, ou nas vitórias. Sim, o filme tem esse lado de autoajuda, mas nunca soa banal. Além disso, Laurent Hasse tem o dom de registrar imagens belas (não bonitinhas) e também de criar empatia com os personagens que se abrem, às vezes de maneira inesperada, para seus olhos e ouvidos. Bonito filme, bastante simples, um relato em primeira pessoa, porém construído pelos olhos e ouvidos dos outros.