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Opinião|Cine Ceará 2016. Abertura do festival vira ato político contra Temer

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Foto do author Luiz Zanin Oricchio
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Fortaleza - A abertura do 26º Cine Ceará transformou-se em ato político, com parte da plateia empunhando cartazes de "Fora Temer" e gritando essa palavra de ordem. Militantes locais subiram ao palco com cartazes semelhantes. E o homenageado da noite, o ator Chico Diaz, também portava o seu cartaz contra o presidente interino. Abriu a camisa e mostrou que, por baixo, vestia uma camiseta com o rosto de Dilma Rousseff. "Quero a minha presidenta de volta", disse, lembrando que Dilma havia sido eleita com mais de 54 milhões de votos. Outra convidada do evento, a atriz basca Iraia Elias, disse queera muito bonito ver um povo lutando por seus direitos - e basco sabe o que é isso. O curta-metragista Arthur Leite que apresentou seu filme, Abissal, também falou contra o interino e lembrou que começou a filmar num programa implantado pelo governo Lula, o Revelando os Brasis.

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Na tela, o programa também foi muito bom. Foi uma noite dedicada às raízes familiares. Abissal, o curta de Thiago Leite, fala de um entrevista que ele realiza com sua avó acerca da família e esta muda de rumo e acaba por revelar algo que o rapaz não esperava, a respeito do avô, da família e da própria avó, hoje uma senhora evangélica, que não vê televisão porque "é pecado".

O longa basco, de Asier Altuna, mostra a vida numa pequena fazenda dominada em aparência pela figura paterna, mas tendo a matriarca como ponto de referência. A modernidade e a tradição se chocam e um início de diálogo entre gerações mostra-se muito problemático. É um filme de imagens muito significativas, em consonância com este personagem, o pai, que tem dificuldade para se expressar e prefere fazê-lo por gestos e não por palavras. Iraia Elias faz a filha rebelde da família, aquela que enfrenta o conservadorismo do pai e tenta vida própria na cidade. Um filme bastante sólido, como a madeira de lei que o pai esculpe e usa como metáforas de uma fala inarticulada.

Enfim, um bom começo para o festival.

Opinião por Luiz Zanin Oricchio

É jornalista, psicanalista e crítico de cinema

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