BRASÍLIA - Arábia, belo filme sobre o mundo do trabalho brasileiro, e o grande vencedor da 50ª edição de 2017 do Festival de Brasília. Além do troféu de melhor filme, venceu nas categorias de ator (Aristides de Souza), montagem e trilha sonora.
Também bastante premiado foi o filme baiano Café com Canela, que levou as estatuetas de roteiro e atriz (Valdineia Soriano), além do prêmio do público.
O filme local, Era uma Vez Brasília, ficou com os troféus de melhor direção (Adirley Queirós), fotografia e som.
O melhor curta foi Tentei, de Laís Melo, em torno da violência sobre a mulher.
Falemos um pouco do vencedor.
O longa mineiro de Affonso Uchôa e João Dumans Arábia tem como pano de fundo o mundo do trabalho. Trata-se de uma ficção, escrita em tons baixos da sutileza, com um protagonista chamado Cristiano (Aristides de Souza), um trabalhador típico do Brasil, morador na periferia de Contagem.
A história começa em Ouro Preto (MG), onde um rapaz encontra um caderno na casa de um dos operários da metalúrgica local e nele descobre um diário de vida. Era no caderno espiral que Cristiano esboçava e tentava dar sentido a uma vida errante, feita de muita necessidade, de alegrias e de tristezas. No meio do relato, ressalta a figura de Ana, mulher que amou e conheceu em um dos múltiplos empregos que teve.
Há que se prestar atenção à narrativa de Arábia. Ela é feita quase todo o tempo em off, a voz do trabalhador, na leitura que é feita do seu diário. Este é a descrição de uma vida, pelo ponto de vista de quem a viveu, isto é, parcial, como qualquer relato. Ele fala da prisão na juventude, depois como põe o pé na estrada em busca de um lugar no mundo. Lugar que será sempre problemático, e vai mudando ao sabor das oportunidades. Faz um pouco de tudo. Colhe mexericas numa fazenda, emprega-se numa tecelagem, ajuda na reforma de um bordel, dirige caminhão, etc. Cristiano é um típico trabalhador não especializado no Brasil, buscando chances de sobrevivência lá e cá, dormindo onde for possível, vivendo da mão para a boca.
Os momentos de felicidade são poucos. E, por isso, ele os guarda como joias preciosas. Um deles, em particular. À tarde, num parque de diversões, ele começa a namorar a mulher de sua vida, Ana. "Daria tudo para voltar a essa tarde, a esse parque", escreve em seu diário. Inútil, porque o tempo não volta, a não ser no processo de escrita, que o registra mas não o resgata.
O tom geral é melancólico, embora haja momentos de respiro e de alegria. Exemplos, as rodas de bar entre amigos, música, algumas conversas muito engraçadas, como a que ele tem com um colega mais velho sobre qual tipo de carga é a a mais dura de carregar nos ombros. Cimento? Café? Telha? "Carregar porco vivo é o que há de pior no mundo", conclui o colega mais experiente.
Arábia soma os encantos de um filme de estrada à reflexão sobre a precarização do mundo do trabalho. Seu personagem é comovente em sua crescente consciência sobre a falta de sentido do mundo em que vive e no qual apenas sobrevive. Sem ser panfletário em qualquer momento, o filme é político nas entrelinhas e em sua concepção geral. Emocionamo-nos com ele. E ele nos faz pensar sobre o mundo e o país em que vivemos e como nele são tratadas as pessoas mais humildes.
A cerimônia de entrega de prêmios, no Cine Brasília, foi precedida pela exibição fora de concurso do longa Abaixo a Gravidade, de Edgard Navarro, da Bahia.
Abaixo, a lista completa dos vencedores
PRÊMIOS OFICIAIS
Troféu Candango - Longa-metragem:
Melhor Filme: Arábia, dirigido por Affonso Uchoa e João Dumans
Melhor Direção: Adirley Queirós por Era uma vez Brasília
Melhor Ator: Aristides de Sousa por Arábia
Melhor Atriz: Valdinéia Soriano por Café com canela
Melhor Ator Coadjuvante: Alexandre Sena por Nó do Diabo
Melhor Atriz Coadjuvante: Jai Baptista por Vazante
Melhor Roteiro: Ary Rosa por Café com canela
Melhor Fotografia: Joana Pimenta por Era uma vez Brasília
Melhor Direção de Arte: Valdy Lopes JN por Vazante.
Melhor Trilha Sonora: Francisco Cesar e Cristopher Mack por Arábia
Melhor Som: Guile Martins, Daniel Turini e Fernando Henna por Era uma vez Brasília
Melhor Montagem: Luiz Pretti e Rodrigo Lima por Arábia
Prêmio Especial do Júri: Melhor Ator Social para Emelyn Fischer, por Música para quando as Luzes se apagam
Júri Popular ( Prêmio Petrobras de Cinema) longa-metragem: Café com canela, dirigido por Ary Rosa e Glenda Nicácio
PRÊMIOS OFICIAIS - Troféu Candango - Curta-metragem:
Melhor Filme: Tentei, dirigido por Laís Melo
Melhor Direção: Irmãos Carvalho por Chico
Melhor Ator: Marcus Curvelo por Mamata
Melhor Atriz: Patricia Saravy por Tentei
Melhor Roteiro: Ananda Radhika por Peripatético
Melhor Fotografia: Renata Corrêa por Tentei
Melhor Direção de Arte: Pedro Franz e Rafael Coutinho por Torre
Melhor Trilha Sonora: Marlon Trindade por Nada
Melhor Som: Gustavo Andrade por Chico
Melhor Montagem: Amanda Devulsky e Marcus Curvelo por Mamata
Prêmio? ?especial: Peripatético, dirigido por Jéssica Queiroz
Júri Popular - Curta-metragem: Carneiro de ouro, dirigido por Dácia Ibiapina
OUTROS PRÊMIOS
Prêmio Canal Brasil: Chico, dirigido por Irmãos Carvalho
Prêmio Abraccine
Melhor filme de longa-metragem: Arábia, dirigido por Affonso Uchoa e João Dumans
Melhor filme de curta-metragem: Mamata, dirigido por Marcus Curvelo
Prêmio Saruê: Afronte, direção de Marcus Azevedo e Bruno Victor
Prêmio Marco Antônio Guimarães: Construindo pontes, dirigido por Heloísa Passos
Prêmio CiaRio/Naymar
Para o melhor curta pelo Júri Popular: Carneiro de ouro, dirigido por Dácia Ibiapina
MOSTRA BRASÍLIA - 22º Troféu Câmara Legislativa do Distrito Federal
Prêmios do Júri Oficial:
Melhor longa-metragem (R$ 100 mil):
O fantástico Patinho Feio, dirigido por Denilson Félix
Melhor curta-metragem (R$ 30 mil):
UrSortudo, dirigido por Januário Jr.
Tekoha - Som da Terra, dirigido por Rodrigo Arajeju e Valdelice Veron
Melhor direção (R$ 12 mil): Dácia Ibiapina, por Carneiro de ouro
Melhor ator (R$ 6 mil): Elder de Paula, por UrSortudo
Melhor atriz (R$ 6 mil): Rafaela Machado, por Menina de barro
Melhor roteiro (R$ 6 mil): Januário Jr., por UrSortudo
Melhor fotografia (R$ 6 mil): Gustavo Serrate, por A margem do universo
Melhor montagem (R$ 6 mil): Lucas Araque, por Afronte
Melhor direção de arte (R$ 6 mil): Bianca Novais, Flora Egécia e Pato Sardá, por O Menino Leão e a Menina Coruja
Melhor edição de som (R$ 6 mil): Maurício Fonteles, por Tekoha - Som da Terra
Melhor trilha sonora (R$ 6 mil): Ramiro Galas, por O vídeo de 6 faces
Prêmios do Júri Popular
Melhor longa-metragem (R$ 40 mil): Menina de barro, dirigido por Vinícius Machado
Melhor curta-metragem (R$ 10 mil): O Menino Leão e a Menina Coruja, dirigido por Renan Montenegro
Prêmio Petrobras de Cinema - Para o melhor longa-metragem pelo Júri Popular da Mostra Brasília:
Menina de barro, dirigido por Vinícius Machado
Prêmio Plug.in
Para o melhor longa-metragem escolhido pelo Júri Popular da Mostra Brasília:
Menina de barro, dirigido por Vinícius Machado
Prêmio ABCV - Associação Brasiliense de Cinema e Vídeo
Marco Curi, Manfredo Caldas e Gerlado Moraes
Prêmio CiaRIO
- Melhor longa-metragem escolhido pelo Júri Popular da Mostra Brasília:
Menina de barro, dirigido por Vinícius Machado
- Melhor curta-metragem escolhido pelo Júri Popular da Mostra Brasília:
O Menino Leão e a Menina Coruja, dirigido por Renan Montenegro
FESTUNIBRASÍLA - 1º FESTIVAL UNIVERSITÁRIO DE CINEMA DE BRASÍLIA
Melhor Filme: O arco do medo, dirigido por Juan Rodrigues (Universidade Federal do Recôncavo Baiano)
Melhor Direção: Fervendo, dirigido por Camila Gregório (Universidade Federal do Recôncavo Baiano)
Júri Popular: O Homem que não cabia em Brasília, dirigido por Gustavo Menezes (UnB)
Menção Honrosa - Método de construção criativa: Afronte, dirigido por Bruno Victor e Marcus Azevedo (UnB)
Menção honrosa - Fotografia: Gabriela Akashi, por Serenata (USP)
Menção Honrosa - Filme de animação: Mira, dirigido por Janaína da Veiga (Unespar)