Fiodor (Serge Renko) e Arsinoé (Katerina Didaskalu) vivem num apartamento em Paris. Ele é um russo branco, filiado a um grupo czarista que conspira contra o regime comunista implantado pela revolução de 1917. Ela é uma pintora grega. O casal estrangeiro tem como vizinho um casal francês, simpatizantes comunistas. A diferença ideológica não impede a amizade entre eles.
Mas, enquanto isso, a situação internacional se agrava. Na França, assume o governo socialista da Frente Popular, de Leon Blum. Na vizinha Espanha estoura a Guerra Civil entre republicanos e fascistas. A Alemanha se arma de maneira ostensiva. A guerra parece inevitável. E ela certamente virá. Paris situa-se no centro dos acontecimentos e maior parte das pessoas leva a vida como pode enquanto o pior não começar. Há um clima de urgência no ar, e este se sente nos diálogos dos personagens. Como um frenesi de viver, já que não se haverá um amanhã.
Enquanto Paris ferve, Fiodor se ausenta em sucessivas viagens. A própria mulher não sabe aonde ele vai, "por razões de segurança". Um conhecido julga tê-lo visto em Berlim. Mas o que estaria fazendo lá? Nesse meio tempo, sua esposa, Arsinoé, linda e elegante, começa a apresentar problemas de saúde. Precisa de tratamento médico adequado. Onde consegui-lo? Fiodor se empenha, porque ama Arsinoé.
Todos, no filme, falam muito. Fiodor mais que todos. O interessante é que, quanto mais se fala, mais ambígua se torna a situação. Como se as palavras, ao invés de comunicar ou descobrir uma realidade, servissem para ocultá-la, ou dissimulá-la na neblina. Já se disse da guerra que ela é como uma neblina. Nunca vemos com clareza o que está acontecendo. No pré-guerra é a mesma coisa. "Às vezes é melhor falar a verdade, porque é a última coisa em que acreditarão", diz um personagem. Sim, dizer a verdade para mentir melhor.
Esse teatro de sombras é filmado à maneira de Rohmer, clássica, despojada, sem qualquer gordura. Um cinema ascético, estupendo. Agente Triplo nunca foi lançado comercialmente no Brasil.