Mais perto da verdade (essa palavra...) me parece o Abel, com sua sabedoria prática de boleiro. Ao comentar a sofrida vitória do Fluminense, pontificou: "Dizem que meu time é cirúrgico. Mas ninguém aqui é formado em medicina", acrescentou, com sorriso matreiro.
E explicou: "Vejam o número de oportunidades criadas. Quando a bola entra, dizem que o time é cirúrgico". É isso, não há cirurgia nenhuma; tem é uma equipe bem estruturada, que cria muitas oportunidades e, por isso, converte. Se algum time poderia se queixar de ter sido submetido a uma intervenção cirúrgica, e sem anestesia, seria a Ponte, que teve contra si o pênalti mal marcado e uma falta invertida - lances que originaram os dois gols do Fluminense. A Ponte foi operada, conforme o jargão.
O fato é que futebol não se acomoda bem a quantificações. Mesmo porque, entre a vitória e a derrota se incorporam fatores avessos aos números, que têm mais a ver com a especulação filosófica do que com a ciência exata. Por isso, não adianta os "especialistas" virem me dizer que o Fluminense tem 95% de chance de ser campeão. Para mim, essa afirmação tem menos valor do que a do bebum em fim de domingo quando afirma que o Flu está com a mão na taça, ou só perde o campeonato para si mesmo.
Por exemplo, entre esses fatores não contabilizáveis entram estes: e se os times não fossem atrapalhados pelas datas Fifa, como eles estariam? Se Barcos tivesse jogado pelo Palmeiras, ou Dedé pelo Vasco, os resultados seriam os mesmos? Se a CBF tivesse emprestado Neymar ao Santos com mais frequência será que a posição do time da Vila na tabela não seria diferente? Se Mano fosse com a cara do Fred e o convocasse, como deveria ter feito, o Flu estaria em posição tão privilegiada, com 9 pontos de vantagem sobre o 2.º colocado?
Como contabilizar essas hipóteses e tantas outras mais? Impossível.
Isso para não falar dos erros de arbitragem, que se sucedem a cada rodada. Erros toscos, primários, não aqueles que se precisa olhar 20 vezes no tira-teima para chegar a alguma conclusão. Como quantificar o impacto da incompetência dos juízes sobre a tabela do campeonato? Eis aí um desafio e tanto para a turma da matemática.
Conclusão: para o Palmeiras se livrar, basta fazer uma reta final como a do Fluminense em 2009, desmentindo todos os institutos de pesquisa que o davam como rebaixado. E, para o Fluminense perder o título, é só jogar como o Palmeiras tem jogado. Fácil, não?
* Coluna Boleiros, publicada no Caderno de Esportes do Estadao