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Cinema, cultura & afins

Opinião|Brasília 2017. Os primeiros curtas, em diversidade temática e estética

Temas como homoerotismo, a juventude da periferia e os impasses da adolescência aparecem nos primeiros curtas-metragens apresentados no Festival de Brasilia

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Foto do author Luiz Zanin Oricchio
Atualização:
 Foto: Estadão

Até agora, uma seleção interessante, com alguns destaques.

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Peripatético, de Jéssica Queiroz (SP). Este é um achado. Destaca três jovens, Simone, Thiago e Michel, moradores da periferia paulistana. Confrontam-se com os desafios da passagem para a idade adulta. Uma delas procura o primeiro emprego, a outra deseja passar no vestibular de Medicina e o garoto passa o dia a jogar videogame. Em meio às já pesadas demandas da adolescência, enfrentam o pânico causado pelos atentados do PCC em maio de 2006. O filme passa longe do baixo astral. Incorpora fórmulas pop de narrativa (em determinado momento, dialoga com o clássico Ilha das Flores, de Jorge Furtado), técnicas de animação e desenho. Mostra uma periferia colorida e cheia de vitalidade. É a maneira como querem ser vistos, e não com piedade e falsa solidariedade do capitalismo predatório. São uma força em afirmação, com sua dramaticidade própria.

Nada, de Gabriel Martins (MG). A personagem é Bia. Aproxima-se o exame do Enem e a orientadora vocacional pergunta a cada aluno o que deseja como carreira futura. Medicina, engenharia, nutricionismo? Bia não quer ser nada disso. Não é abulia. É bode com o sistema, mesmo. Bia é rapper, e a família se impacienta com ela. Resolve viajar. O filme tem um tom despojado, acompanha sua personagem com toda a naturalidade. Não dá respostas prontas e não hesita em abandonar o espectador em suas dúvidas e em sua expectativa por uma amarração final. Gostoso em sua mineirice, é um mergulho de cabeça nas aspirações (ou falta de) da juventude. Sem crítica, pelo contrário, com olhar cúmplice e amoroso.

Inocentes, de Douglas Soares (RJ). O filme se apresenta como percurso na obra homoerótico do fotógrafo Alair Gomes. Registra, em preto e branco, corpos sarados de rapazes na praia. Um percurso estético um tanto vazio e meio dispensável.

O Peixe, de Jonatas de Andrade (PE). É outro filme estetizante, em diálogo com as artes plásticas e com um homoerotismo mais caché que o anterior. Mostra imagens de pescadores e suas presas - os peixes, claro. Os homens acarinham e trazem o peixe junto ao peito enquanto este agoniza. Imagens bonitas, com destaque para os corpos humanos. Vai se repetindo e se repetindo. E daí?

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Opinião por Luiz Zanin Oricchio

É jornalista, psicanalista e crítico de cinema

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