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Uma geléia geral a partir do cinema

'Whiteville'

Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

CANNES - É muito raro dizer uma coisa dessas, mas sinceramente não sei dizer se 'gostei' de 'Blindness', que abriu agora de manhã o 61.o Festival de Cannes. Fiquei impressionado, isso sim, com o tratamento visual que Fernando Meirelles e o fotógrafo César Charlone dão ao tema da cegueira branca que se constitui na metáfora de José Saramago em seu filme. As interpretações são maravilhosas - Julianne Moore, Mark Ruffalo, Alice Braga -, mas na maior parte do tempo senti uma admiração fria. A miséria daquelas pessoas para as quais a cegueira e o confinamento são passos em direção à barbárie não me tocou como gostaria. Na verdade, em poucos momentos eu viajei naquele horror, e foram os momentos em que Fernando utiliza (com parcimônia) a música. Quero crer como Jeanne Balibar, a grande atriz de Jacques Rivette, que integra o júri presidido por Sean Penn - ela disse que o ideal é ver os filmes duas vezes, e isso deveria ser cobrado dos críticos, antes que eles escrevessem suas impressões. Pode ser que Jeanne tenha razão e 'Blindness' seja este filme que exige um tempo mais lento de maturação, como os vinhos exigem para degustação. Só que num festival, em geral, não se tem este tempo e o filme vai crescer, ou desaparecer, em comparação com os outros que a gente for vendo. Mas é tudo muito forte. A maquiagem de São Paulo - como nunca foi vista na tela -, a superexposição da imagem à luz, com aquelas sombras luminosas - parece paradoxo, mas você vai entender quando vir -, que coisa! O mais curioso foi falar com as pessoas depois da sessão. Houve gente que comparou com 'O Senhor das Moscas', 'Os Filhos da Esperança', 'O Anjo Exterminador' e até 'Dogville', pela estilização cênica e dramatúrgica, digamos assim. 'Blindness' seria 'Blackville' - ou o contrário de black, 'Whiteville'-, sem Lars. 'Blindness', que no Brasil vai se chamar 'Ensaio sobre a Cegueira', ainda vai dar muito pano para manga, ora se vai.

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