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Uma geléia geral a partir do cinema

Visconti!

Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

CANNES - Vamos dar uma geral, com as novidades de ontem para hoje. Ontem à noite, faltei à primeira sessão de imprensa de 'Vincere', o concorrente da Itália à Palma de Ouro, para ver outro filme italiano, esse clássico, 'Sedução das Carne' (Senso), de Luchino Visconti. Havia citado o clássico de Don Luchino, adaptado de um originalo de Camilo Boito, quando falei sobre Alida Valli, a beleza italiana que teve uma carreira internacional em Hollywood, nos anos 40, filmando, entre outros, com Alfred Hitchcock (falei nela porqwue havia assistido a 'Agonia de Amor'/The Paradine Case, em Paris). Alida tem o papel de sua vida como Livia Serpieri, a aristocrata que, no quadro do Risorgimento, trai o sonho de unidade nacional de seus compatriotas por amor a um ocupante austríaco que, no limite, a despreza e ela reage fazendo executar o cara. A cópia zero bala é espetacular, com as cores que Visconti queria em 1954. O diretor da Cineteca di Bolognas veio lembrar que o filme concorreu em Veneza e nada ganhou. Naquele ano, o Leão de Ouro foi atribuído a um filme hoje esquecido - 'Romeu e Julieta', de Renato Castellani -, enquanto 'Senso' adquiriu a estatura de clássico. É interessante como o filme hoje clássico se revela uma obra subversiva e, na perspectiva da época, inovadora, não apenas porque Visconti integra o melodrama e a ópera às propostas de superação histórica do neo-realismo. Há 55 anos, o escândalo em Veneza foi grande e o filme desagradou aos militares e às autoridades porque Visconti reconstituía um fracasso italiano, na batalha de Custoza, vencida pelos austríacos. Além de centrado numa derrota, o filme tem como protagonista essa traidora - de sua classe e da 'Itália', que ainda era só um sonho. Hoje em dia, tudo isso é história, mas a essência do filme, o melodrama e a voltagem erótica, permanecem insuperáveis, como a interpretação matizada de Alida Valli. Ainda bem que me permiti esse prazer. Teria sido horrível voltar ao Brasil sem ver, na tela grande, a versão restaurada de 'Senso' em Cannes Classics.

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