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Uma geléia geral a partir do cinema

Sobre a Teorema, a homenagem a Jeanne Moreau e otras cositas más

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Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

Foi uma das experiências singulares de minha vida. Em julho de 2007 - há dez anos, e meio - estava indo para uma junket em Tóquio. O voo era via Milão. Pela manhã, no dia 30, passei no jornal e morrera Ingmar Bergman. Fiz o texto, fechei, e me fui. Ao chegar à Itália, na manhã seguinte, todos os jornais davam, na capa, a morte de... Michelangelo Antonioni! Tomei um choque. Dois artistas viscerais, foram-se no mesmo dia. Não é tão raro. Edith Piaf e Jean Cocteau, François Truffaut e Pierre Kast também morreram no mesmo dia. Neste ano que se encerra, morreram, também em julho, Jeanne Moreau e Sam Shepard. Não morreram no mesmo dia, mas o anúncio da morte dele foi feito simultaneamente - havia morrido três ou quatro dias antes. Para mim, o problema seria quem dar na capa do Caderno- a Moreau, claro, maior atriz do cinema. Meu editor não mudou a capa, que nem lembro qual era. Espremeu os dois lá dentro. Escrevi os textos, o de Sam ainda menor, considerando-se o grande dramaturgo, e ator carismático, que foi. Voltei da Argentina e me aguardava em casa a revista Teorema de dezembro. Na capa, a Moreau, com direito a texto de Cacá Diegues, que a dirigiu em Joanna Francesa. Na contracapa interna, Jeanne e Marcello Mastroianni, de costas, afastando-se no jardim de A Noite - de Antonioni! Hasta siempre! Teorema traz textos sobre Dunkirk, Zama, Twin Peaks - O Retorno, Corra e o necrológio de Jerry Lewis. Confesso que, mesmo com risco de perder os poucos leitores que tenho - um blog sem fotos exige certa coragem, ou pré-disposição, para ser desbravado -, não tenho muito interesse por Jordan Peele nem David Lynch, exceto o de História Real, que é, até certo ponto, a contrafação de seu surrealismo, ou bizarrice, de pacotilha. Mas, enfim, o que quero dizer é que adorei a homenagem a Jeanne Moreau na capa de Teorema e o texto de João Martins Ladeira sobre Dunkirk, porque ele entende o projeto de Christopher Nolan como construção do tempo e uma reflexão que, no fundo, é menos sobre a guerra, embora seja potente, que sobre o cinema, a arte (e o futuro) do cinema espetáculo, que Nolan desmonta para (re)montar. Estou muito inclinado a fazer uma lista de dez mais com predomínio de filmes brasileiros, incluindo documentários, mas meu número um de 2017 ninguém tasca. É o Nolan.

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