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Uma geléia geral a partir do cinema

Silenciosa Luz

Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

RIO - Encontrei ontem na entrada do Cine Odeon BR o diretor de Personal Che, Douglas Duarte, que não me cobrou nada, mas percebi que ele tinha a expectativa de que publicasse a entrevista que fiz com ele. Deixei para a Mostra, mas acrescentei o post sobre Che, que sabia que provocaria polêmica. Sensacional - 40 e tantos comentários apaixonados! Espero que isso ajude a incrementar as sessões de Personal Che na Mostra. E espero que as pessoas não fiquem só no êxtase ou no patrulhamento ideológico, conseguindo ver o filme também como cinema. Vou usar este mesmo post para comentar, rapidamente, a premiação de Silenciosa Luz na Première Latina. O prêmio é dado por um júri internacional, formado por integrantes da Fipresci. Carlos Reygadas é um dos diretores mexicanos mais importantes da atualidade, cultuado pelos cinéfilos por filmes como Japón e Batalla nel Cielo. Alejandro González-Iñárritu e Alfonso Cuarón foram filmar em Hollywood e ficaram mais famosos. Têm mais exposição na mídia. Não creio que o cinemão chame Reygadas para coisa alguma. Seu olhar é muito enviesado para poder ser assimilado por Hollywood. Não gostei tanto de Batalha no Céu, mas depois de rever Silenciosa Luz, a que já havia assistido em Cannes, me deu uma imensa vontade de rever também o filme anterior do diretor. Talvez veja agora de forma diferente toda aquela parte da peregrinação religiosa. Reygadas descobriu uma comunidade de manonitas no México. Como os amish de A Testemunha, de Peter Weir, eles vivem num mundo fechado (mesmo que mais aberto para a modernidade, com carros e eletricidade). Johan é o protagonista. Casado, temente a Deus, ele comete adultério dentro da comunidade. O que ocorre, a partir daí, é único - e permite ao diretor fazer uma inesperada ponte com o cinema do mestre dinamarquês Carl Theodor Dreyer, que entrou para a história como o homem que filmou a alma. Em Ordet (A Palavra), de 1955, Dreyer filma o Verbo (divino), documentando o processo de uma ressurreição. Reygadas dialoga com Dreyer. E a luz do filme dele é uma das coisas mais deslumbrantes que já vi. Vai para a Mostra. Fiquem de olho.

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