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Uma geléia geral a partir do cinema

Salmo 91

Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

Fui ver ontem a reestréia da peça Salmo 91, que meu editor, Dib Carneiro Neto, adaptou do livro de Drauzio Varella e agora está no Teatro Oficina. Será que o Dib, crítico de teatro infantil, algum dia imaginou ter uma peça montada no templo de Zé Celso Martinez Correia? Quando estava em cartaz no Sesc Santana, Salmo 91 desencadeou uma polêmica que se estendeu por dias, semanas no post do Zanin (meu colega Luiz Zanin Oricchio). Não quero polemizar com ninguém, mas quero dizer que ontem quase me acabei revendo Salmo 91. Não sabia que mudanças o diretor Gabriel Vilela ia fazer em sua montagem para adaptá-la ao novo espaço. Afinal, o palco do Sesc Santana era italiano e Ooficina tem aquele imenso corredor central - não é uma arena -, no qual o Zé encena seus happenings. Eu sei o quanto aquilo é longo porque numa das partes de Os Sertões, acho que na Terra, aquela valquíria imensa que integra o elenco do Oficina me catou lá em cima, onde eu me escondia - tenho horror de interação - e me fez cavalgar por todos os pisos daquele teatro, que me pareceram não ter fim. De volta ao Salmo 91, Gabriel Vilela mudou um pouco o espaço, mas não sua concepção, que continua baseada na palavra. Acho que o teatro, no limite, está se revelando um espaço mais adequado (ou privilegiado)para investigar o universo do Carandiru, mas quero dizer que, se a humanidade dos presos já era o tema do Dr.Drauzio no livro e de Hector Babenco em seu filme recordista de público - é a segunda maior bilheteria da Retomada, após 2 Filhos de Francisco -, eles (os personagens) nunca me pareceram tão dolorosamente humanos como desta vez. Sem o entrave do palco italiano, a peça ficou mais intimista, estabelecendo uma ponte que aproxima mais a gente daquelas figuras. Claro - não é para quem pensa que preso bom é preso morto, mas é para quem acredita, como o Dr. Drauzio, como o Dostoievski de Recordações da Casa dos Mortos - com seu outro médico -, que a necessidade de Justiça não exclui a compaixão. O diálogo do preto velho me dilacerou. Quando ele fala no filho, o seu menino, que completa a terceira geração da família dentro daquele inferno e diz que vai ensinar que ali dentro homem não chora, mas o próprio velho se debulha em lágrimas, aquilo me deu uma opressão no peito que parecia que ia morrer. E que ator maravilhoso é Pashoal da Conceição!Todos são bons e a peça mereceria um prêmio coletivo de interpretação na votação deste ano da APCA, a Associação Paulista dos Crticos de Arte. Mas o Paschoal... Quando ele se ajoelha no fim, depois que todos cantam o salmo, a sensação que tive foi a de ter viajado, em busca de redenção, às entranhas da miséria humana.

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