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Uma geléia geral a partir do cinema

Sacha Boran Cohen e a incorreção política

Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

Voltei louco de vontade de escrever sobre várias coisas que vi em Nova York. Mal entrei na redação e todo mundo começou a tirar sarro - fala, assoberbado; como vai, assoberbado? Logo vi que devia ser alguma coisa do blog, que me passou despercebida nos dias em que estive fora. Amei o Hamaca Paraguaya, como todo mundo sabe. Fiz aquela observação - pior para eles, os que não gostaram. Posso ser assoberbado, mas se não puder dizer isso no meu blog - o que vou dizer? Aleluia, irmãos? Sei não, mas essa cobrança me parece coisa de quem não gostou e se ofendeu. Ou então, pior, de politicamente correto, uma obsessão dos americanos. Uma das coisas mais interessantes que vi em Nova York foi o novo filme do Sacha Baron Cohen, a nova sensação do humor dos EUA. Havia gente pelo ladrão, ingressos vendidos com antecedência de até três dias para ver Borat, mas tenho até medo de tocar no assunto. Não há ninguém mais incorreto que Sacha no cinema atual. Comediante inglês de origem judaica, ele criou, na TV, esse personagem do repórter do Kazaquistão que viaja para os EUA para levar a seu país o testemunho das cenas da vida americana. É pau do começo ao fim. Na trama, o repórter, Borat, entre outras coisas, odeia judeus. É um problema cultural, ele explica, porque um dos orgulhos do Kazaquistão é haver inventado os progroms. Borat se hospeda na casa de um casal de velhos judeus. São uns amores de pessoas. Fazem tudo para agradá-lo, mas tudo parece suspeito para o personagem de Sacha. Ele resolve reagir. Entra numa loja de armas e pergunta o que o vendedor recomenda para matar judeus? O cara faz uma descrição do que tem, mas diz que, pessoalmente, preferiria um 38 ou então o revólver de Dirty Harry, o poderoso Magnum 44, que abrem um rombo garantido. O público morre de rir com as piadas de judeu, de deficientes, de bandeira e de hino americanos, mas tenho minhas dúvidas se eles entendem o que há de feroz no humor incorreto de Sacha Baron Cohen em relação aos EUA e suas instituições. Não sei nem se a Fox vai trazer o filme para o Brasil. Ligo daqui a pouco para a assessoria da empresa para saber o que vão fazer com Borat, mas antes quero dizer que o filme anterior de Sacha Baron Cohen, A Balada de Ricky Bobby, foi cancelado para cinemas e será lançado somente em DVD pela Sony. No original, chama-se Telluride Nights. Ricky Bobby é interpretado por Will Ferrell. É um piloto aparentemente imbatível, um Schumacher que topa com a sua nêmesis, um piloto francês interpretado por Sacha. O cara é gay. Ele entra no cockipit - e vocês podem imaginar as piadas com cock - e vai logo chocando meio mundo ao apresentar 'meu marido'. Estrelam, o marido e o marido, um documentário para TV. O par gay na intimidade. É hilário. Numa cena, para provar a superioridade da cultura francesa sobre a americana, Sacha diz - nós inventamos o ménage à trois e vocês, o que inventaram? George W. Bush (e faz cara de nojo). Assim como Bobby Fisher pode ser considerado homófobo, Borat também pode ser considerado anti-semita. Não é - não vejo assim; é antes uma questão de fazer rir da loucura e do absurdo do mundo atual. Vi Ricky Bobby em Los Cabos, no México, num evento promovido pela Sony. Alessandro Giannini estava junto. Ele e eu quase morremos de rir das piadas, mas a Sony, que traz um monte de comédia cretina, decididiu que o filme não merece vir para os cinemas brasileiros. Vamos ver se Borat estréia nas salas. Já é tempo de os brasileiros conhecerem o humor selvagem de Sacha Baron Cohen.

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