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Uma geléia geral a partir do cinema

Resistência

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Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

Sete da noite no Festival Cinema e Direitos Humanos, hoje no CineSesc. O evento de Amir Labaki exibe Cavallo entre Rejas, que será seguido de debate com as diretoras Shula Erenberg, Laura Imperiale e Maria Inés Roque. O filme tem apenas 55 minutos,. O debate está previsto para começar às 20 horas. Shula, Laura e Maria Inés são argentinas. Foram exiladas após o golpe militar de 1976. Usam o cinema como arma de resistência civil contra a impunidade. No debate de hoje, somente a primeira estará presente. O Cavallo nas Grades é Ricardo Angel Cavallo, codinome Serpico ou Miguel Angel, torturador da Escola Mecânica de la Armada (ESMA), na última ditadura argentina. Preso no México, Cavallo não poderia ser extraditado para ser julgado na Argentina porque o presidente Menem promulgou uma lei indultando os acusados de crimes durante a ditadura. O processo foi iniciado na Espanha, que pediu a extradição de Cavallo e o levou a julgamento, acusado de pertencer ao ESMA, um dos maiores centros de detenção clandestina da ditadura, por onde passaram 5 mil dos 30 mil desaparecidos que foram o brutal saldo da violência institucional cometida contra presos políticos no país. O que estará em discussão, logo mais, no CineSesc, será a memória do genocídio. A impunidade é mais grave que o crime e o que Shula vai dizer é que suas colegas e ela se recusam a abrir mão da discussão sobre o terrorismo de Estado. O caso é interessante porque ocorre no momento em que Pinochet está à morte. Pinochet comandou a ditadura mais brutal do continente, a chilena. É duro dizer isso para quem perdeu seus entes queridios na Argentina, no Brasil. Mas o Chile de Pinochet foi campeão de atrocidades. O ditador está velhinho, está morrendo, já recebeu a extrema-unção, o sacramento dos enfermos. Não sou o maior entendido de teologia do mundo, mas espero que não seja a abolvição dos pecados como preparativo, na liturgia cristã, para o encontro com o Todo-Poderoso. As violências praticadas pela ditadura chilena e as acusações de favorecimento e corrupção que pesam sobre a família Pinochet incitam ao que Shula chama de resistência civil contra a impunidade.

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