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Uma geléia geral a partir do cinema

Que coisa!

Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

Um furacão, vendaval, tsunami, sei lá, matou 400 nas Filipinas. Pobres filipinos, mas tenho de confessar que o número, por acachapante que seja, me atingiu bem menos do que duas outras, e talvez três, mortes. O ator e diretor Sérgio Brito, o carnavalesco Joãozinho Trinta, a cantora Cesária Évora. Foram-se todos, de um só golpe. Eta 17 de dezembro. De cara, pensei em Fernanda Montenegro, que perdeu há pouco o amigo Ítalo Rossi e agora vai-se outro esteio do Teatro dos Sete. Minhas primeiras experiências de teatro remontam a Porto Alegre, ao Teatro São Pedro, aonde me levava meu primo Milton Oliveira. Foi lá que vi Dulcina, Maria Della Costa, Paulo Autran, Fernanda. E Ítalo, e Sérgio. Ele não fez tanto cinema quanto seu imenso talento poderia permitir. Talvez os diretores se intimidassem diante do monstro sagrado do teatro, mas já pensaram o que seria de 'Terra em Transe' sem os excessos de Paulo Autran como Diaz? 'Comprador de Fazendas', a versão antiga, com Procópio, 'O Homem dos Papagaios', 'O Desafio', 'Society em Baby-Doll', 'A Culpa', 'Gordos e Magros', 'A Maldição de Sanpaku'. Devo estar me esquecendo de alguma coisa, mas, no cinema, Sérgio Brito fez muitos papeis de milionário, ou então foi chefe de gangues. E Joãozinho Trinta? O carnaval também não seria a mesma coisa sem a revolução que ele iniciou na Beija-Flor, enchendo o asfalto com sua imaginação delirante? Homens e mulheres nus, aquele Cristo empacotado e vendado. Gabriel Vilela, que fez nãoi-sei-o-quê com Joãozinho, me disse certo dia que ele era gênio. Um grande talento reconhecido por outro grande artista. Acho bacana isso, os grandes são generosas, os medíocres, sabedores de seus limites, é que defendem com unhas e dentes o espacinho que conquistaram. Que coisa! E nem falei da Cesária Évora. A diva dos pés descalços! A alma de Cabo Verde! Juro que estou digitando e, no meu imaginário, é como se estivesse ouvindo seu duo com Marisa Monte. É doce morrer no mar. Com Cesária, era, no 'crioulo' cuja sonoridade ela explorou até os limites.

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